É preciso falar de Ambev
Pão e Cerveja

É preciso falar de Ambev, ou não…

A gigante que assombra as menores, na eterna luta entre Davi e Golias

Olha eu entrando em uma zona perigosa. Falar de um assunto que parece ter se tornado um tabu no meio cervejeiro. É preciso falar de Ambev, e tudo o que ela representa, às claras, sem sermos passionais, sem nos iludirmos como empresários ou consumidores. Não sou expert de mercado, tampouco sou uma fabricante de cervejas diretamente atingida pela gigante. Sou uma consumidora, jornalista que um dia me encantei pelo universo das cervejas artesanais e quis fazer dele minha pauta constante, hoje talvez única.

É preciso falar de Ambev!

downloadAssim que a Wals, de Belo Horizonte, foi vendida para a Ambev ( anúncio feito no início de 2015) senti que uma parte do meu mundinho-bairrista-cervejeiro desmoronou um tanto. A fábrica, no bairro São Francisco, que eu frequentava como extensão da minha casa, que era meu programa do almoço dos sábados, não pertencia mais aos amigos Ustane, Miguel, Thiago e Zé Felipe. Foi duro engolir a nova situação e, claro, minha tendência, como a de todo mundo naquele momento, foi a de rejeitar as cervejas ambevianas. Acontece que a amizade com a família Carneiro, antiga proprietária, não se extinguiu com a venda da cervejaria. E seria muito estranho que isso acontecesse. Me lembro que fiz uma entrevista com a presidente do Instituto Siebel de Chicago, a Lyn Kruger, logo após a venda e ao comentar sobre isso, perguntando como se dava a relação com as empresas que passaram pelo mesmo processo nos Estados Unidos, ela me respondeu que havia uma certa confusão entre negócios e pessoas. Uma coisa natural era a negociação ser rejeitada, até recriminada por muitos. Outra era passar a encarar as pessoas, amigas até então, como inimigas por terem vendido suas empresas. Ela me trouxe à realidade que é preciso encarar mercado e negócios sem romantismos. E diante disso, como poderia eu rejeitar as cervejas que meus amigos da Wals, sim continuam sendo e muito, continuam produzindo localmente, na mesma cidade, na mesma fábrica de antes?

cervejaria-colorado-2Poucos meses depois, o anúncio da venda da Colorado. Novo baque, acostumados que estávamos com a figura do Marcelo Carneiro, sempre sorrindo, advogado das artesanais no Brasil. Vê-lo agora do lado de lá? Passando a ser “inimigo” do mercado do qual foi um dos maiores construtores e divulgadores. Novamente, pouco após a venda, uma entrevista feita por mim com empresários de Minas Gerais, que mantinham um contrato com a Colorado para a produção e distribuição exclusiva da marca em terras mineiras, repercutiu e muito. O título A Colorado que a Ambev não Comprou se alastrou rapidamente, levando o próprio Marcelo Carneiro a me procurar para dar sua versão dos fatos, infelizmente naquele momento bem confusos.

Vida que segue, Ambev seguindo adiante com aquisições de pequenas mundo afora, mercado sem saber bem o que representaria tudo isso,passamos a enxergar ” a força da grana que ergue e destrói coisas belas”. Se no primeiro momento tentamos ver os lados positivos, como a possibilidade de levar as artesanais para públicos que não teriam acesso a elas, no momento seguinte passamos a ver PDVs excluindo marcas e rótulos para dar exclusividade aos rótulos do portfólio Ambev. Só que desta vez ninguém ficou calado. E o público chiou, reclamou, ameaçou boicotar. Não que isso pudesse arranhar a força da gigante, mas em tempos de redes sociais, para que manchar mais ainda a imagem da empresa? Houve um recuo, discreto, mas houve. E assim a exclusividade nos PDVs deixou de ser a arma, mas a concorrência desleal, com preços muito abaixo do que as menores podem praticar, foi o caminho encontrado. E isso pode sim quebrar muitas cervejarias!

Ação e Reação

download (1)Para toda ação existe uma reação, não é assim a lei? Mas em que proporção a reação das menores pode surtir algum efeito? Já que concorrer nos pontos de venda, ou com lobby pesado no Congresso, não é algo muito possível às pequenas cervejarias, talvez impedir as grandes de entrar em seus eventos o seja. Dentro desse pensamento, uma decisão: no Festival Brasileiro da Cerveja, em 2017, nenhuma grande indústria poderá ter estande. Assim foi decretado. Mas terá sido essa a melhor estratégia? Não teria sido mais efetivo impedir as grandes de ter estandes maiores e diferenciados? Não surtiria mais efeito colocá-las no meio das demais cervejarias, nas mesmíssimas condições, brigando pela preferência do público apenas pela qualidade de suas cervejas? Sem poder cobrar menos, sem poder fazer promoções, sem poder se sobressair com subterfúgios? Não deveria ser o consumidor o juiz da peleja? Não deveria ser o consumidor o autor de suas escolhas?

A responsabilidade é do consumidor?

Tenho percebido uma revolta invertida por aí. O consumidor sendo culpado por comprar as cervejas da Ambev, ou de outras grandes. O consumidor sendo cobrado a fazer boicotes. O consumidor sendo insultado por gostar das marcas que fazem parte do portfólio da gigante. O consumidor sendo responsabilizado pelas pequenas não decolarem.

O argumento de dar suporte e apoio às cervejas locais é perfeito, é lindo, mas em nosso país soa um pouco utópico.  Nem todo mundo tem condições financeiras de apoiar as cervejarias artesanais locais. É grana contada no fim do mês. Cervejinha, mesmo das mais baratas, pesa no orçamento e por isso tem sido cortada da lista de compras de muita gente. E aí a pergunta: é melhor não beber cerveja nenhuma a só poder, ou gostar, daquelas que cabem no orçamento, sejam de grandes indústrias ou não? Fora que as cervejarias artesanais compradas pela indústria continuam atuando em seus locais de origem, são cervejas tão locais quanto outras.

Dar preferência ao pequeno produtor é outro argumento social importante. Válido, nem sempre possível. Primeiro porque nem todo produto fabricado em menor escala é sinônimo de qualidade. Não mesmo. Segundo porque tais produtos, novamente, são acessíveis a uma pequena parcela dos consumidores, que pode pagar por eles! Sem contar que a grande maioria da população nem sabe que existe cerveja diferente, local, fabricada em menor escala. Ainda não formamos um contingente razoável de consumidores conhecedores! E neste caso, provoco: Ambev com suas marcas artesanais não pode trazer um público muito maior para esse segmento?

São muitas dúvidas, gente. Muita cerveja ainda para passar por debaixo da ponte. E neste momento enxergar o mercado, intervir e atuar nele eticamente,  exige atenção e estratégia. Boas estratégias, não arremedos de reações. Não é culpando a ponta, onde está o consumidor, que se conseguirá driblar as investidas da grande indústria. Mesmo que o cidadão entenda que os impostos são extorsivos para as pequenas empresas, o que pesa na escolha é o poder de compra dele. A luta é muito maior e simplificá-la, colocando no âmbito do consumo é tiro no pé.

E então, é ou não preciso falar de Ambev?

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal UAI.

Comentários

Subscribe
Notify of
guest
34 Comentários
Oldest
Newest Most Voted
Inline Feedbacks
View all comments
Ivan Bento

A questão do festival de Blumenau, ao meu ver, não é por a culpa no consumidor, mas sim mostrar pra ele o quanto as grandes são predadoras. Isso é uma questão conceitual que está se esvaindo e tem que ser ressaltada. Essa é uma das formas de ressaltá-la.

Lucas Ricardo Santos

Eu acho que a ação da Ambev é sim periogsa, se temos cervejas diferentes no brasil nacionais e importadas é devido aos pequenos, seja pequeno produtor, pequeno distribuidor/importador e pequenos PDV (lojas especializadas), as ações da AMBEV com as grandes redes varejistas como 50% de desconto nos feriados, ou descontos ainda maiores é sim uma atitude predatória não apenas com as micro cervejarias em si, mas com os pontos de vendas também. Sem toda essa estrutura existente nunca teríamos saído da Skol/Brama/Itaipava, uma vez que essas cervejas de larga escala para a Ambev é muito mais lucrativo. Não fosse a lógica competitiva do ponto de vista exclusivo do lucro, 2 ou 3 cervejas diferentes seria muito mais que o suficiente e ideal.

A longo prazo essa disputa desleal, não apenas com o pequeno produtor, mas também com os PDVs pode diminuir drasticamente a diversidade cervejeira, e que inclusive outras boas cervejarias (como as compradas) surjam. Não vejo com bons olhos enquanto consumidor a atitude da Ambev, no curto prazo é até bom ter cervejas mais baratas mas no longo prazo a variedade e diversidade desse meio vai cair bastante

Ítalo Batista

Oi Fabiana! Ótimo o seu comentário, mas esse assunto, como vc bem disse, é muito polêmico e precisa ser encarado de frente para que se chegue à uma boa estratégia por parte dos pequenos, mas execelentes produtores. Sou apenas um engenheiro apaixonado por tudo que envolve cervejas e um produtor caseiro, mas percebo que aquilo que me atraiu para esse seguimento, que é o desprendimento do meio, sempre disposto a ajudar os iniciantes, quando sai do caseiro para o profissional, se iguala a todos os outros mercados. O ego e a grana falam mais alto.
Esse movimento cervejeiro só tomou proporções maiores e chegou ao ponto em que estamos porque houveram pessoas que perceberam que só haveria um futuro para um se muitos fizessem parte deste sonho, então acho que essa máxima deve ser retomada em prol de todos e para o bem dos consumidores, que como eu, adoram experimentar novos sabores a cada dia!
Parabéns pelo trabalho brilhante que você faz e do qual sou fan!

Fabio Perrotta Jr.

Concordo. A máxima deve ser retomada sim. E que as pequenas que crescem não se voltem contra suas até então companheiras de mercado. Isso também vem acontecendo e ninguém tem coragem de denunciar. ” Artesanais” que tomam porte e querem inviabilizar menores no mercado. Estou mentindo? Me digam que só a Ambev faz isso e pronto, atacaremos todos o mesmo inimigo. O buraco é bem mais embaixo e enquanto não formos adultos para atacar o problema de forma estratégica, continuaremos vendo uma empresa gigante se agigantar ainda mais e ditar as regras do mercado.

Mais um bebedor

Desculpe se o que estou escrevendo não esta correto. Mas este teu texto parece matéria comprada pela AMBEV para tentar recuperar prestígio no meio das artesanais.

Fabio Perrotta Jr.

Posso te pedir algo? leia novamente, com mais atenção. Me indique aonde está a defesa da Ambev. E, meu caro, se fui comprada informo que levei um cano,pois o dinheiro não entrou.

Humberto Croce

Fabiana
Concordo com seu ponto de vista, porém como consumidor acho que é direito do mesmo saber exatamente o que compõe a cerveja e seus riscos.
Isso tudo declarado no rótulo da produto. Porque as cervejarias não são obrigadas a declarar por exemplo se o milho que utilizam são GMO free? Ou por exemplo, qual é o grau de contaminação do milho utilizado como adjunto, com substâncias cancerígenas como DON?
Vamos trazer tudo à luz da consciência, equilibrando os poderes envolvidos e aí sim o consumidor decidir o que ele quer ingerir.
Abraços

Humberto Croce

Fabiana
Concordo com seu ponto de vista de deixar o consumidor escolher o melhor para ele.
Porém, temos que equilibrar as ações lobistas para ter equilíbrio na contenda.
Porque não temos leis mais duras na declaração dos componentes que formam a cerveja?
Porque até hoje as cervejarias não são obrigadas a declarar se o milho que utilizam é GMO free? Ou então qual é o nível de contaminação dos milhos utilizados com substâncias cancerígenas como DON ?
Qual seria a aceitação dessas cervejas depois dessa regulamentação ? O barato pode sair caro…
Não acho que lobby para um lado ou para outro vai trazer lucidez à escolha do consumidor, mas clareza das informações sim.

Abraços

Fabio Perrotta Jr.

Concordo 100 por cento! Dar ao consumidor condições iguais para uma escolha justa é o que devemos fazer sim. Impedir a oferta, no entanto, não me parece ser uma estratégia de informação clara. Eu mesma faço esse tipo de ” denúncia” em todas as minhas entrevistas, participações ao vivo com ouvintes da minha coluna. Presto a informação sobre isso porque me sinto no dever. No entanto tenho visto embates pouco claros, principalmente nas redes sociais, com passionalidade, o que também não me parece ser o melhor caminho. Enfim, minha intenção era a de colocar o assunto em discussão aberta mesmo. Obrigada por contribuir!

Mestre dos Magnos

Festival de FoodTruck na Tijuca no Rio com patrocínio na AMBEV. Chopp da Colorado Appia (copo 300ml) 14 reais.

Doni

Prezada, a AMBEV tem práticas criminosas anti-concorrenciais. Não tenho problema algum em consumir marcas de grandes cervejarias (por acaso algum advogado das “artesanais” já declarou, por exemplo, o mesmo ódio às grandes Guinness, Leffe e tantas outras?). Até gosto quando isso representa redução de preço. Sou consumidor e gosto de qualidade e… preço! No caso da AMBEV, ao contrário do que se esperaria, o preço subiu e ela ainda tem uma postura bem suspeita com relação às menores. Não citarei nomes, mas possui um amigo que trabalha numa das maiores redes de supermercado de Minas Gerais. Ele cuida da parte de contratos dessa empresa. Ele me contou como funciona o contrato com a AMBEV e as exigências dela em relação às menores. É anti-concorrencial, para dizer o mínimo. Daí porque entendo perfeitamente as pequenas cervejarias e consumidores terem ojeriza a AMBEV. Em tempo, ainda consumo Wäls e Brahma extra, apesar dos pesares…

Fabio Perrotta Jr.

Olá Doni, gostaria tanto que essas práticas pudessem vir a público abertamente. Eu seria a primeira a propagar isso pelo bem do mercado. As exigências em relação às menores, por exemplo, sabemos que existem, mas nunca podemos dar nomes aos bois! Assim sendo as denúncias acabam se perdendo. Ano passado, por exemplo, usei meu perfil no FB para informar que uma grande rede de supermercados estava tirando os rótulos de pequenas cervejarias para dar exclusividade aos rótulos Ambev. O que aconteceu?? O dono, o filho do dono, o gerente de marketing e um monte de gente veio atrás de mim para desmentir. Colocaram de volta vários rótulos para me fazer calar a boca. Meu post é uma proposta de reflexão, é preciso falar abertamente sobre isso, caso contrário será sempre essa briga desigual. Ao contrário do muitos interpretaram, não defendo, muito menos justifico as práticas da Ambev.

Doni

Prezada, pode ter certeza de que isso é verdade. Minha fonte é confiável. Quer saber o pior? A margem de lucro dos supermercados com vendas das artesanais é infinitamente superior à margem de venda das cervejas AMBEV. Muito mesmo. Esse mesmo amigo me disse que diariamente recebe inúmeros rótulos de várias cervejarias pequenas. Cervejas boas e com boas margens de lucros, mas que não podem ser colocadas nas prateleiras por causa da AMBEV! É incrível! Infelizmente, como isso é, digamos assim, infiscalizável (contratos de gavetas com multas de milhões!), cabe aos consumidores o boicote mesmo. A revolução deve vir de baixo, do consumidor. Devemos procurar estimular o consumo de cervejas melhores e produzidas pelos pequenos e, sobretudo, procurar combater o maldito culto ao preço e status. Para mim, as cervejas artesanais possuem dois inimigos: AMBEV e o preço. Mas o preço renderia uma discussão ainda mais delicada. Abraços e parabéns pelo espaço!

Tiago Londres

Acho que deixar as grandes de fora de certos eventos é somente uma retaliação, pois todos os grandes eventos públicos as artesanais são barradas…. haja visto : copa, carnaval, olimpíadas, festas juntinhas, bauernfest (petropolis) e tantas outras. Sendo que tem dinheiro do contribuinte nessa conta aí. Não sei se é uma estratégia correta, mas é perfeitamente compreensível. As grandes não brincam, então não podem ter seu reconhecimento as custas dos. “outros”. Parabéns pelo seu texto!!! Vamos falar mais sobre o assunto.

Leonardo Lodi

“As grandes não brincam”. Quem brinca? As macros só entram em grandes eventos porque COMPRAM a exclusividade, que ainda vem recheada de isenção fiscal, ou seja, fazem exigências às prefeituras, porque financiam campanhas.

Leonardo Lodi

Fiquei extremamente satisfeito com a decisão da organização do Festival Brasileiro de Cerveja , em Blumenau, de barrar a entrada de qualquer cervejaria que pratique “lobby” governamental, sonegue impostos, oprima pequenos produtores impingindo-lhes taxas tão altas quanto as próprias, além de sonegação de impostos, estratégias ilegais de mercado e manipulação da opinião do consumidor. O Festival perdeu no ano passado a adesão de algumas cervejarias e correu o risco de ser boicotado pelas demais, devido às escolhas equivocadas que fez em favor das macros. Particularmente, não bebo nada da ABI (quando posso) mas sou assinante do Wals MadLab. Estranho, não? Mas é apenas minha intenção de tentar perceber o potencial inventivo desta cervejaria mineira que admiro há anos. Mesmo assim, não estou satisfeito. Comparando com o grau de inventividade de muitos dos pequenos, ficam atrás também neste quesito. Uma pergunta que vale à pena fazer é: e na hora em que a ABI não tiver mais interesse nesses pequenos? Não sabemos se este dia vai chegar, mas sabemos que a ABI só entrou no Festival Brasileiro com marcas que antes eram artesanais. Com Brahma e Anterctica é que não seriam aceitos jamais. Logo, é mais uma jogada pra tentar ganhar medalhinha com bateladas específicas de concurso, e continuar enganando o orgulhoso bebedor de Backer premiada.

Igor

A reflexão proposta no artigo é muito boa.

Eu costumo frequentar um bar aqui no Rio de Janeiro (Brewteco) que tem cerveja para todo mundo: além de Heineken, Antártica Original e Eisenbanh Lager, eles oferecem três geladeiras e mais duas chopeiras de cervejas artesanais. Essa mistureba dá certo: uma democracia de gostos (onde amigos não deixam de ir porque não tem a cerveja de sua preferência) e, mais ainda, tomadores de cervejas de larga escala de olho nas artesanais (o tempo todo experimentando e elegendo suas preferidas neste nicho).

Se fossemos pensar só por este caminho, uma barraca da AMBEV do mesmo tamanho de uma artesanal local, com as mesmas condições para comercializar, seria bem interessante. Será bem assim?

Acho que precisamos entender também tanto o lado dos organizadores quanto dos cervejeiros artesanais (ora expositores). Os expositores precisam de viabilidade para vender suas cervejas e retorno financeiro. Caso contrário, pode acontecer o que tem já ocorreu em alguns festivais gastronômicos (ou food trucks) aqui no Rio: a venda baixa e, possivelmente, o prejuízo, acaba por afastar os expositores. Nisto, o organizador tem que ter a liberdade de estipular critérios para a aceitação de expositores. E no caso da AMBEV, basta o consumidor sair do local do evento que no bar mais próximo provavelmente terá uma da gigante à sua espera.

É errada essa responsabilização do consumidor por beber AMBEV ou a gigante que for. Isto é coisa de cervochato! Se o consumidor tem preferência por Standard American Lager, qual o problema? Eu prefiro um queijo prato ou minas de grandes marcas que um gruyère, um brie ou um roquefort. Gosto é gosto…

Ivan Bento

A questão do festival de Blumenau, ao meu ver, não é por a culpa no consumidor, mas sim mostrar pra ele o quanto as grandes são predadoras. Isso é uma questão conceitual que está se esvaindo e tem que ser ressaltada. Essa é uma das formas de ressaltá-la.

Mais um bebedor

Desculpe se o que estou escrevendo não esta correto. Mas este teu texto parece matéria comprada pela AMBEV para tentar recuperar prestígio no meio das artesanais.

paoecerveja

Posso te pedir algo? leia novamente, com mais atenção. Me indique aonde está a defesa da Ambev. E, meu caro, se fui comprada informo que levei um cano,pois o dinheiro não entrou.

Mestre dos Magnos

Festival de FoodTruck na Tijuca no Rio com patrocínio na AMBEV. Chopp da Colorado Appia (copo 300ml) 14 reais.

Humberto Croce

Fabiana
Concordo com seu ponto de vista, porém como consumidor acho que é direito do mesmo saber exatamente o que compõe a cerveja e seus riscos.
Isso tudo declarado no rótulo da produto. Porque as cervejarias não são obrigadas a declarar por exemplo se o milho que utilizam são GMO free? Ou por exemplo, qual é o grau de contaminação do milho utilizado como adjunto, com substâncias cancerígenas como DON?
Vamos trazer tudo à luz da consciência, equilibrando os poderes envolvidos e aí sim o consumidor decidir o que ele quer ingerir.
Abraços

Lucas Ricardo Santos

Eu acho que a ação da Ambev é sim periogsa, se temos cervejas diferentes no brasil nacionais e importadas é devido aos pequenos, seja pequeno produtor, pequeno distribuidor/importador e pequenos PDV (lojas especializadas), as ações da AMBEV com as grandes redes varejistas como 50% de desconto nos feriados, ou descontos ainda maiores é sim uma atitude predatória não apenas com as micro cervejarias em si, mas com os pontos de vendas também. Sem toda essa estrutura existente nunca teríamos saído da Skol/Brama/Itaipava, uma vez que essas cervejas de larga escala para a Ambev é muito mais lucrativo. Não fosse a lógica competitiva do ponto de vista exclusivo do lucro, 2 ou 3 cervejas diferentes seria muito mais que o suficiente e ideal.

A longo prazo essa disputa desleal, não apenas com o pequeno produtor, mas também com os PDVs pode diminuir drasticamente a diversidade cervejeira, e que inclusive outras boas cervejarias (como as compradas) surjam. Não vejo com bons olhos enquanto consumidor a atitude da Ambev, no curto prazo é até bom ter cervejas mais baratas mas no longo prazo a variedade e diversidade desse meio vai cair bastante

Leonardo Lodi

Fiquei extremamente satisfeito com a decisão da organização do Festival Brasileiro de Cerveja , em Blumenau, de barrar a entrada de qualquer cervejaria que pratique “lobby” governamental, sonegue impostos, oprima pequenos produtores impingindo-lhes taxas tão altas quanto as próprias, além de sonegação de impostos, estratégias ilegais de mercado e manipulação da opinião do consumidor. O Festival perdeu no ano passado a adesão de algumas cervejarias e correu o risco de ser boicotado pelas demais, devido às escolhas equivocadas que fez em favor das macros. Particularmente, não bebo nada da ABI (quando posso) mas sou assinante do Wals MadLab. Estranho, não? Mas é apenas minha intenção de tentar perceber o potencial inventivo desta cervejaria mineira que admiro há anos. Mesmo assim, não estou satisfeito. Comparando com o grau de inventividade de muitos dos pequenos, ficam atrás também neste quesito. Uma pergunta que vale à pena fazer é: e na hora em que a ABI não tiver mais interesse nesses pequenos? Não sabemos se este dia vai chegar, mas sabemos que a ABI só entrou no Festival Brasileiro com marcas que antes eram artesanais. Com Brahma e Anterctica é que não seriam aceitos jamais. Logo, é mais uma jogada pra tentar ganhar medalhinha com bateladas específicas de concurso, e continuar enganando o orgulhoso bebedor de Backer premiada.

Doni

Prezada, a AMBEV tem práticas criminosas anti-concorrenciais. Não tenho problema algum em consumir marcas de grandes cervejarias (por acaso algum advogado das “artesanais” já declarou, por exemplo, o mesmo ódio às grandes Guinness, Leffe e tantas outras?). Até gosto quando isso representa redução de preço. Sou consumidor e gosto de qualidade e… preço! No caso da AMBEV, ao contrário do que se esperaria, o preço subiu e ela ainda tem uma postura bem suspeita com relação às menores. Não citarei nomes, mas possui um amigo que trabalha numa das maiores redes de supermercado de Minas Gerais. Ele cuida da parte de contratos dessa empresa. Ele me contou como funciona o contrato com a AMBEV e as exigências dela em relação às menores. É anti-concorrencial, para dizer o mínimo. Daí porque entendo perfeitamente as pequenas cervejarias e consumidores terem ojeriza a AMBEV. Em tempo, ainda consumo Wäls e Brahma extra, apesar dos pesares…

paoecerveja

Olá Doni, gostaria tanto que essas práticas pudessem vir a público abertamente. Eu seria a primeira a propagar isso pelo bem do mercado. As exigências em relação às menores, por exemplo, sabemos que existem, mas nunca podemos dar nomes aos bois! Assim sendo as denúncias acabam se perdendo. Ano passado, por exemplo, usei meu perfil no FB para informar que uma grande rede de supermercados estava tirando os rótulos de pequenas cervejarias para dar exclusividade aos rótulos Ambev. O que aconteceu?? O dono, o filho do dono, o gerente de marketing e um monte de gente veio atrás de mim para desmentir. Colocaram de volta vários rótulos para me fazer calar a boca. Meu post é uma proposta de reflexão, é preciso falar abertamente sobre isso, caso contrário será sempre essa briga desigual. Ao contrário do muitos interpretaram, não defendo, muito menos justifico as práticas da Ambev.

Doni

Prezada, pode ter certeza de que isso é verdade. Minha fonte é confiável. Quer saber o pior? A margem de lucro dos supermercados com vendas das artesanais é infinitamente superior à margem de venda das cervejas AMBEV. Muito mesmo. Esse mesmo amigo me disse que diariamente recebe inúmeros rótulos de várias cervejarias pequenas. Cervejas boas e com boas margens de lucros, mas que não podem ser colocadas nas prateleiras por causa da AMBEV! É incrível! Infelizmente, como isso é, digamos assim, infiscalizável (contratos de gavetas com multas de milhões!), cabe aos consumidores o boicote mesmo. A revolução deve vir de baixo, do consumidor. Devemos procurar estimular o consumo de cervejas melhores e produzidas pelos pequenos e, sobretudo, procurar combater o maldito culto ao preço e status. Para mim, as cervejas artesanais possuem dois inimigos: AMBEV e o preço. Mas o preço renderia uma discussão ainda mais delicada. Abraços e parabéns pelo espaço!

Ítalo Batista

Oi Fabiana! Ótimo o seu comentário, mas esse assunto, como vc bem disse, é muito polêmico e precisa ser encarado de frente para que se chegue à uma boa estratégia por parte dos pequenos, mas execelentes produtores. Sou apenas um engenheiro apaixonado por tudo que envolve cervejas e um produtor caseiro, mas percebo que aquilo que me atraiu para esse seguimento, que é o desprendimento do meio, sempre disposto a ajudar os iniciantes, quando sai do caseiro para o profissional, se iguala a todos os outros mercados. O ego e a grana falam mais alto.
Esse movimento cervejeiro só tomou proporções maiores e chegou ao ponto em que estamos porque houveram pessoas que perceberam que só haveria um futuro para um se muitos fizessem parte deste sonho, então acho que essa máxima deve ser retomada em prol de todos e para o bem dos consumidores, que como eu, adoram experimentar novos sabores a cada dia!
Parabéns pelo trabalho brilhante que você faz e do qual sou fan!

paoecerveja

Concordo. A máxima deve ser retomada sim. E que as pequenas que crescem não se voltem contra suas até então companheiras de mercado. Isso também vem acontecendo e ninguém tem coragem de denunciar. ” Artesanais” que tomam porte e querem inviabilizar menores no mercado. Estou mentindo? Me digam que só a Ambev faz isso e pronto, atacaremos todos o mesmo inimigo. O buraco é bem mais embaixo e enquanto não formos adultos para atacar o problema de forma estratégica, continuaremos vendo uma empresa gigante se agigantar ainda mais e ditar as regras do mercado.

Igor

A reflexão proposta no artigo é muito boa.

Eu costumo frequentar um bar aqui no Rio de Janeiro (Brewteco) que tem cerveja para todo mundo: além de Heineken, Antártica Original e Eisenbanh Lager, eles oferecem três geladeiras e mais duas chopeiras de cervejas artesanais. Essa mistureba dá certo: uma democracia de gostos (onde amigos não deixam de ir porque não tem a cerveja de sua preferência) e, mais ainda, tomadores de cervejas de larga escala de olho nas artesanais (o tempo todo experimentando e elegendo suas preferidas neste nicho).

Se fossemos pensar só por este caminho, uma barraca da AMBEV do mesmo tamanho de uma artesanal local, com as mesmas condições para comercializar, seria bem interessante. Será bem assim?

Acho que precisamos entender também tanto o lado dos organizadores quanto dos cervejeiros artesanais (ora expositores). Os expositores precisam de viabilidade para vender suas cervejas e retorno financeiro. Caso contrário, pode acontecer o que tem já ocorreu em alguns festivais gastronômicos (ou food trucks) aqui no Rio: a venda baixa e, possivelmente, o prejuízo, acaba por afastar os expositores. Nisto, o organizador tem que ter a liberdade de estipular critérios para a aceitação de expositores. E no caso da AMBEV, basta o consumidor sair do local do evento que no bar mais próximo provavelmente terá uma da gigante à sua espera.

É errada essa responsabilização do consumidor por beber AMBEV ou a gigante que for. Isto é coisa de cervochato! Se o consumidor tem preferência por Standard American Lager, qual o problema? Eu prefiro um queijo prato ou minas de grandes marcas que um gruyère, um brie ou um roquefort. Gosto é gosto…

Humberto Croce

Fabiana
Concordo com seu ponto de vista de deixar o consumidor escolher o melhor para ele.
Porém, temos que equilibrar as ações lobistas para ter equilíbrio na contenda.
Porque não temos leis mais duras na declaração dos componentes que formam a cerveja?
Porque até hoje as cervejarias não são obrigadas a declarar se o milho que utilizam é GMO free? Ou então qual é o nível de contaminação dos milhos utilizados com substâncias cancerígenas como DON ?
Qual seria a aceitação dessas cervejas depois dessa regulamentação ? O barato pode sair caro…
Não acho que lobby para um lado ou para outro vai trazer lucidez à escolha do consumidor, mas clareza das informações sim.

Abraços

paoecerveja

Concordo 100 por cento! Dar ao consumidor condições iguais para uma escolha justa é o que devemos fazer sim. Impedir a oferta, no entanto, não me parece ser uma estratégia de informação clara. Eu mesma faço esse tipo de ” denúncia” em todas as minhas entrevistas, participações ao vivo com ouvintes da minha coluna. Presto a informação sobre isso porque me sinto no dever. No entanto tenho visto embates pouco claros, principalmente nas redes sociais, com passionalidade, o que também não me parece ser o melhor caminho. Enfim, minha intenção era a de colocar o assunto em discussão aberta mesmo. Obrigada por contribuir!

Tiago Londres

Acho que deixar as grandes de fora de certos eventos é somente uma retaliação, pois todos os grandes eventos públicos as artesanais são barradas…. haja visto : copa, carnaval, olimpíadas, festas juntinhas, bauernfest (petropolis) e tantas outras. Sendo que tem dinheiro do contribuinte nessa conta aí. Não sei se é uma estratégia correta, mas é perfeitamente compreensível. As grandes não brincam, então não podem ter seu reconhecimento as custas dos. “outros”. Parabéns pelo seu texto!!! Vamos falar mais sobre o assunto.

Leonardo Lodi

“As grandes não brincam”. Quem brinca? As macros só entram em grandes eventos porque COMPRAM a exclusividade, que ainda vem recheada de isenção fiscal, ou seja, fazem exigências às prefeituras, porque financiam campanhas.