Tenho ouvido críticas sobre aquelas comidas bem comuns, nada glamourosas, que atualmente andam ganhando status gourmet . Hamburgeres, brigadeiro, bolinho e até pão com linguiça já não são apenas guloseimas, muitas vezes até feinhas, que comemos sem afetação. Elas podem ser algo especial, feitas com ingredientes sofisticados e caros, transformando-se em uma " experiência gastronômica". O mesmo pode ser dito da cerveja. Ela já não é mais apenas aquela bebida geladíssima, servida no copo lagoinha, em uma ocasião informal. Cerveja pode ser a bebida oficial de um jantar de vários talheres, pode ser a bebida de uma recepção, servida em belas taças, com apresentação " chic e elegante".
Apesar de concordar que seja muito bom comer um big sanduíche sem frescura, acompanhado de um copo de cerveja trincando de gelada, não vejo problema algum na outra via, no sanduíche e cerveja " gourmets". Aliás, tenho participado de alguns eventos, nos quais os pratos são combinados com cerveja, que são de cair o queixo!
Nesta semana mesmo, durante a aula sobre Escola Belga no curso de sommelier de cerveja que administro em Belo Horizonte, tivemos um desses jantares para ninguém botar defeito! O cardápio foi pensado para exemplificar os estilos belgas de cerveja combinados a pratos mais ou menos típicos daquele país. De entrada o chef Ricardo Caput preparou um crepe de carne seca desfiada coberto com molho de gorgonzola. Para acompanhar propus a cerveja Saison de Caipira, da cervejaria Wäls, pensando no residual doce da cerveja em contraste com o sal destacado do prato. Combinação mais que feliz!
Na Bélgica é usual cozinhar com cerveja, por isso o chef Caput fez sobrecoxas de frango cozidas em cerveja escura, com ameixas e endívias. A ave veio acompanhada de batatas rústicas. A cerveja desta vez foi a Medieval, uma Blonde Ale da Backer, com doçura e corpo acetinado, combinando com a textura do prato e com os sabores da ameixa e dos maltes escuros da cerveja usada para cozinhar a comida. Mais uma vez uma experiência de degustação deliciosa.
E para a sobremesa o prato pensado foi um waffle com sorvete de creme e calda de morangos caseira. A cerveja para acompanhar foi uma Flanders, avermelhada e bastanta ácida. O rótulo escolhido foi a Rodenbach Grand Cru, para uma dança de sabores sem igual. Ácido e doce bailando na boca.
Tudo de bom!
Como podem ver, a moda de “gourmetizar” o comum pode ser uma bela experiência, sem se transformar em obrigação. Basta que seja apenas o que é: um simples prazer!
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