Não costumo me ater a um rótulo específico neste espaço. Mas de vez em quando uma cerveja me impressiona tão bem, que abro exceção para falar dela especialmente. O objeto deste texto é a Duchesse de Borgogne, uma cerveja, de certa forma, incomum, diferente das que tomamos rotineiramente.Trata-se de uma red flanders, produzida na região de Flandres, na região Oeste da Bélgica.
O rótulo é um poema. Traz um retrato da duquesa Mary, de Borgonha, nascida no século 15 e que herdou o ducado quando tinha apenas 20 anos. Essa jovem nobre foi responsável por mostrar o poder da Borgonha e se impor perante a França medieval. Um feito e tanto para um período histórico no qual mulheres não tinham vez! Ultrapassando a primeira impressão, a visual, totalmente aprovada, partimos para o que de fato interessa: sabor, aspectos sensoriais da bebida. E esses, meu amigo, são surpreendentes! O que chama a atenção em primeiro lugar é a delicadeza do líquido. A cor é escura, castanho-avermelhada, o que poderia nos sugerir uma explosão de aromas e sabores, a exemplo de outras belgas, do estilo strong dark ales. Mas não. Essa cerveja tem características marcantes, porém sutis. Pode parecer uma contradição, mas é isso mesmo. São perceptíveis os aromas amadeirados, de frutas vermelhas, lembrando cerejas, de especiarias, de vinho, mas nada disso é forte ou enjoativo. É como se estivéssemos experimentando um bom perfume, daqueles que os toques aromáticos se intercalam, quase numa sinfonia. A partir dessas sensações, como não desejar o primeiro gole, mesmo que o gosto seja ainda desconhecido? E aí vem a próxima surpresa. Ao esperar uma cerveja extremamente doce, projetando no sabor os aromas percebidos anteriormente, você se depara com uma acidez que vem em primeiro lugar. Não é uma bebida azeda, veja bem. Ela tem dulçor, com certeza. Mas tem também o ácido que lembra os deliciosos acetos balsâmicos, provocando na boca aquele gostinho de quero mais. Além disso, o sabor de vinho, tal qual percebe-se no aroma, está lá! E não por acaso. Afinal, essa cerveja passa por envelhecimento em barris de carvalho, anteriormente utilizados para o amadurecimento do fermentado de uvas.
A Duchesse de Borgogne é tão especial, com ares tão nobres, que foi a bebida servida no casamento dos príncipes Freferik e Mary, da Dinamarca, em 2004. Vale a pena experimentá-la.
Por aqui ela é vendida ao preço médio de R$17.
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