Se você clicou neste post é porque o assunto lhe interessa. Mas, se ao ler o título pensou que darei dicas de como otimizar resultados e/ou ganhar mais medalhas nos concursos nacionais e internacionais, sinto desapontá-lo, pois não pretendo dar conselhos oportunistas sobre isso. O objetivo aqui é apontar alguns problemas, principalmente em relação às inscrições, que venho observando. Entre um concurso cervejeiro e outro alguns erros se repetem. E eu fico me perguntando o porque, uma vez que o produtor da cerveja, o dono da cervejaria deveriam ser aqueles que mais conhecem seus produtos. E é justamente o contrário. Às vezes temos a impressão que muitas cervejas foram inscritas no chute! Sei, entendo perfeitamente, que muitas vezes os critérios do edital do concurso não são bem explicados, o que acaba confundindo a pessoa responsável por fazer as inscrições em nome das cervejarias. Outras vezes, na pressa para não perder o prazo, se inscrevem as cervejas sem ler os parâmetros da categoria descritos no guia de estilos que será utilizado em cada concurso ( isso varia de um guia para outro). E ainda há um terceiro fator, a ansiedade por ganhar uma medalha, o que pode incrementar vendas, faz com que algumas cervejarias tracem planos mirabolantes, buscando encaixar seus produtos em categorias diferentes daquelas declaradas em seus rótulos para ter menos concorrência.
Erros mais comuns que tenho observado:
- Cervejas inscritas em categorias erradas: elas nem passam na primeira mesa, na qual é feita a seleção das melhores. São desclassificadas ali mesmo, ainda que peçamos à organização do concurso para checar se vieram por engano para aquela mesa. Até hoje não houve esse engano. A cerveja foi mesmo inscrita naquela categoria. Já vi casos de cervejas pretas na categoria Pilsen!
- Cervejas sem pasteurizar: com certeza conservam melhor os aromas frescos dos lúpulos, no entanto há que se considerar as condições em que essa cerveja será transportada e armazenada até a data do concurso. Caso não seja feito esse cálculo por parte da cervejaria, corre-se o risco de a cerveja chegar à mesa de julgamento descaracterizada, cheia de oxidações e até mesmo, em muitos casos vi isso, contaminada.
- Cervejas muito pasteurizadas: para não incorrer no erro 2, as cervejarias resolvem seguir o caminho inverso, pasteurizando ao máximo suas cervejas. Elas chegam à mesa de julgamento sem contaminação, por certo, mas têm um sabor caramelado/queimado de cozimento.
- Cervejas com elementos extras não declarados: muitas vezes a cerveja é inscrita na categoria-base, ou seja, dentro do estilo em que foi produzida. Porém, ela tem acréscimo de alguma especiaria, alguma fruta ou erva, que não são permitidos ao estilo, de acordo com a descrição do guia. Assim, a cerveja é desclassificada, mesmo sendo excelente, porque não obedece aos parâmetros do estilo.
- Cervejas especiais sem definição do estilo-base: Há várias categorias, cujas cervejas recebem ingredientes extras, diferentes. E muitas vezes a cervejaria faz a inscrição corretamente, na categoria exata para tais ingredientes. Só que esquece de declarar qual o estilo-base de sua cerveja! Para julgamento correto de categorias especiais como Fruit Beer, Field Beer, Herb and Spice, entre outras, é necessário saber qual o estilo original da cerveja. Por não saber o que está julgando, os juizes desclassificam o produto, pois não há parâmetros isentos para avaliá-lo. Não se pode definir uma boa cerveja por gosto pessoal do juiz!
Premiação em categoria diferente
Tenho notado que algumas cervejas vêm ganhando medalhas em categorias diferentes daquelas declaradas nos rótulos. Temos visto Dry Stout receber medalha de ouro na categoria Stout Export, ou cervejas vendidas como Pale Ale ganharem medalha como Red Ale. Acho até compreensível que a cervejaria opte por produzir seus rótulos seguindo parâmetros comerciais, atendendo ao público consumidor, e não os parâmetros dos guias de estilo. Mas não é estranho sinalizar ao mercado que sua Pale Ale é a melhor Red Ale do Brasil? Que sua Pilsen é a melhor International Lager? Em nome da transparência algo deveria mudar, não? Sejam as regras dos concursos, que podem exigir inscrição na categoria descrita no rótulo ou as decisões das cervejarias de inscrevê-las da forma como são vendidas.
Medalhas na World Beer Cup
Ainda é tempo para apontar o bom desempenho do Brasil no maior concurso cervejeiro do mundo, a WBC. Foram 5 medalhas, o que em números absolutos parece pouco. Relativizando, no entanto, é um desempenho muito bom e inédito do país. Ficamos atrás apenas dos Estados Unidos, Canadá, Alemanha, Reino Unido e Bélgica, pátrias produtoras tradicionais. Até então a participação brasileira no quadro de medalhas da competição era quase nula. Nos primórdios dele, ainda na década de 1990, a Antártica havia ganhado como melhor Dry Lager (?); no início dos anos 2000, a Eisenbahn recebeu uma medalha de bronze; em 2014 a Wals ganhou prata e ouro e agora, em 2018, 5 cervejarias brasileiras brilharam por lá. Outro grande feito, nenhum país da América do Sul ganhou qualquer prêmio no concurso, senão o Brasil. É para comemorarmos! Que o resultado sirva de incentivo para que cada vez mais cervejarias brasileiras participem.
Brasileiras premiadas na WBC
- Tupiniquim Pecan Imperial Stout – ouro na categoria Field Beer
- Wals Brüt – ouro na categoria Other Belgian-Style Ale
- Lohn Carvoeira – prata na categoria Herb and Spice Beer
- Brasserie 35 ZoZ#3 – bronze na categoria Other Strong Beer
- Leuven Irish Red Ale – bronze na categoria Irish-Style Red Ale
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