Pela minha TL no Facebook, nos últimos dias, passaram dezenas de fotos iguais com certificações do BJCP ( Beer Judge Certification Program). Entendo, parabenizo e aplaudo, a sensação de vitória de quem se dedicou a estudar um guia de estilos arduamente, decorando cada minúcia para responder as questões da prova. Por outro lado, continuo sem entender o quanto a obtenção de diplomas e certificados, para muita gente, representa mais do que se aprender de verdade um conteúdo. Tenho observado muito isso. Em cursos de pós-graduação em que já lecionei, nos de sommelier, tanto da Academia Sommelier de Cerveja quanto do Science of Beer, tenho me deparado com alunos totalmente alheios à aula, como se ali estivessem para cumprir tabela e, no final, sair com um diploma na mão. Podem argumentar alguns que o professor ( no caso eu) não domina a matéria, ou não tem didática para repassar o conteúdo. Ainda assim, acho estranho que um aluno desinteressado da aula possa ter subsídios para julgar a competência de quem ministra a matéria. Voltando ao assunto deste post: a estranha mania do brasileiro por diplomas!
Em um post escrito a cinco mãos, publicado no site Brejas em julho de 2011, mais de seis anos portanto, eu, Maurício Beltramelli, Paulo Schiaveto, Marco Falcone e Amanda Reitenbach apontávamos o que chamamos de “obsessão” pelo certificado BJCP. Muitos nos crucificaram à época dizendo que estávamos atacando o guia de estilos. Outros criaram uma disputa sem o menor cabimento entre BJCP e Sommelières de Cerveja. E houve quem não lesse o texto, mas o condenasse assim mesmo, por ouvir o galo cantar sem saber aonde! A discussão que pretendíamos levantar naquela época era exatamente essa: por que uma certificação é tão importante, em detrimento do principal: verdadeiro conhecimento? Apontávamos no texto ( pode ser lido aqui) o surgimento de cursinhos preparatórios para a decoreba necessária ao preenchimento da prova! E isso, seis anos depois, se comprova com a proliferação desses cursos por várias capitais do país ( inclusive se tornando uma exigência cursá-los para ter o direito a fazer a prova!)
Deixo claro, em letras garrafais: NÃO TENHO NADA CONTRA O BJCP! Utilizo o guia constantemente em meu trabalho. Indico aos alunos. Sou amiga do Gordon Strong, presidente do programa de certificação, a quem respeito demais! Com ele julguei na mesma mesa na South Beer Cup 2015. Fizemos juntos comprinhas por Mar del Plata, sentamos para tomar sorvete, entrevistei-o sobre o livro que ele lançaria meses depois e conversei muito sobre a importância do certificado, o qual Gordon insistia para que eu obtivesse. Nada, nem mesmo ele, me convenceu sobre a importância pura e simples do tal diploma. Afinal, como o próprio Strong ressaltou em nossas conversas, todas as ferramentas necessárias em um bom juiz ele observou em mim. Assim sendo, continuo sem entender esse comércio por certificações. Muito mais importante, a meu ver, é dominar a matéria, é degustar com muito apuro e técnica todas as cervejas possíveis, é ser juiz de um concurso não para aumentar sua pontuação e sim para aumentar a qualidade das cervejas produzidas no Brasil e fora dele. Eu não acredito em direito de julgar dado por carimbo! Acredito, sim, na capacidade técnica que leva alguém a ser convidado a julgar em concursos sérios. Também não acredito nas dezenas de concursos que vejo surgirem a cada evento, justamente para absorver a mão de obra certificada e aumentar a pontuação de juízes ( que sobem de posto por folha corrida, por número de concursos dos quais participou). Obter a certificação, entendam bem, não deve ser o objetivo máximo, a meu ver, mas sim a consequência de um caminho de estudos. Compreender cada estilo, e não decorá-los simplesmente, é que deve ser a busca de todos que querem avaliar, analisar e julgar cervejas.
Minha opinião é polêmica, eu sei, mas é preciso ter coragem para dar a cara à tapa e dizer o que se pensa, mesmo que muitos não concordem com ela.
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** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal UAI.
Sergio Buarque de Holanda explica isso direitinho em Raizes do Brasil….
Boa Noite!!!
Se vc decorar os estilos, como sugere acima, não garante nada na prova BJCP. Se vc não conhecer as virtudes e defeitos (nessa ordem), off-flavors e como evitá-los / arrumá-los, não conseguirá nem a nota mínima para ser um juiz BJCP.
Sinceramente, discordo com 70% do texto, concordo com 30%, mas acho que a principal parte dele, que é que vc deve tornar-se juiz, sommeliere ou o que seja não pelo diploma, para subir de nível ou o que seja e sim, para melhorar a qualidade da cerveja artesanal no Brasil, fazendo isso voluntariamente, sem visar o lucro próprio, que é o que infelizmente acontece muito mais do que apenas essa “gana” pelo diploma!
Isso é muito mais sério e pior!
Respeito totalmente a opinião, entendo, mas não concordo, pois alguns podem pensar assim, mas a maioria que conheço e que postou na timeline do FB seu orgulhoso diploma, estudou pra caramba, se dedicou, gastou tempo e dinheiro, abdicou de precioso tempo com sua família para consegui-lo e isso não o faz um obstinado pelo diploma, apenas mais um com vontade de evoluir e ajudar no movimento da cerveja artesanal, mesmo não tendo nenhum lucro financeiro com isso!
Abração e ótima semana com ótimas cervejas!!!
Luis C Theossi
Concordo com o Theossi sobre o posicionamento e a obtenção de um diploma ou certificado.
Gostaria apenas de debater um pouco a parte “Acredito, sim, na capacidade técnica que leva alguém a ser convidado a julgar em concursos sérios.”, se fosse por capacidade técnica vejo muitas pessoas que poderiam estar nos concursos, mas não estão, simplesmente por serem novos no mercado, por não serem conhecidos ou por não trazerem mídia/mkt para tal concurso.
Por isso a forma de conseguir certificados, nacionais ou internacionais são importantes sim, uma forma de elevar a qualidade dos juízes que muitas vezes nem se quer conhecem o estilo que estão julgando.
Acho que alguns certificados perderam força devido ao volume a proposta de quem os entrega/forma, porém no BJCP ou até mesmo um CICERONE acredito no potencial de trazer confiança e qualidade para os julgamentos, destacando a importância do estudo contínuo sempre.
Olha Henrique, acho bem complicado afirmar que juízes em concursos sérios não conhecem o estilo que julgam. Participo de vários concursos, no Brasil e fora dele, e tenho me sentado à mesa com grandes mestres, a quem reverencio. Cada juiz é avaliado pela organização dos concursos sérios. Cada feedback de cervejarias concorrentes sobre as fichas recebidas é considerado para até mesmo cortar um juiz do corpo de juízes. E muitos, mas muitos deles, não têm certificado algum. Os que têm não se preocupam em exibi-los como troféus. Então, essa história de elevar corpo de juízes é meio arrogante, não? À propósito, os ” velhos de mercado” são muitas vezes aqueles que vão contratar um novato com certificado. Alguns velhos de mercado criaram estilos que os guias descrevem. Então, acho que ” os velhos” não são incompetentes com medinho de perder posto não. Eles estão aonde estão porque provaram sua competência. Conquistaram respeito, sabe? Não o impuseram não. Mas, o texto não era contra ter certificado( também tenho os meus), mas sim achar que é isso que faz um bom profissional. Pena que nem todo mundo consegue ler e entender o que está escrito, partindo para agressão em rede social. A proposta era de reflexão e debate, não de agressões tolas e torcidas por times.
Muito interessante a reflexão levantada, realmente existem profissionais despreparados com ou sem diploma, por esta razão quem se propõe a instruir no meio cervejeiro deve incentivar seus alunos a fazer uma autorreflexão sobre suas reais motivações de buscar aquele conhecimento, assumir um papel de facilitador auxiliando-os a se encontrar dentro deste meio cheio de possibilidades, e assim eles terão mais motivação para estudar e se preparar constantemente dentro e fora de sala de aula, o diploma neste caso será só um detalhe.
Exatamente este é o ponto. O diploma é consequência, não o fim, como tentei expor no texto,mas por muitos não foi entendido. Infelizmente as pessoas lêem e interpretam suas ideias pré-concebidas, não o que de fato está escrito.
Sergio Buarque de Holanda explica isso direitinho em Raizes do Brasil….
Boa Noite!!!
Se vc decorar os estilos, como sugere acima, não garante nada na prova BJCP. Se vc não conhecer as virtudes e defeitos (nessa ordem), off-flavors e como evitá-los / arrumá-los, não conseguirá nem a nota mínima para ser um juiz BJCP.
Sinceramente, discordo com 70% do texto, concordo com 30%, mas acho que a principal parte dele, que é que vc deve tornar-se juiz, sommeliere ou o que seja não pelo diploma, para subir de nível ou o que seja e sim, para melhorar a qualidade da cerveja artesanal no Brasil, fazendo isso voluntariamente, sem visar o lucro próprio, que é o que infelizmente acontece muito mais do que apenas essa “gana” pelo diploma!
Isso é muito mais sério e pior!
Respeito totalmente a opinião, entendo, mas não concordo, pois alguns podem pensar assim, mas a maioria que conheço e que postou na timeline do FB seu orgulhoso diploma, estudou pra caramba, se dedicou, gastou tempo e dinheiro, abdicou de precioso tempo com sua família para consegui-lo e isso não o faz um obstinado pelo diploma, apenas mais um com vontade de evoluir e ajudar no movimento da cerveja artesanal, mesmo não tendo nenhum lucro financeiro com isso!
Abração e ótima semana com ótimas cervejas!!!
Luis C Theossi
Muito interessante a reflexão levantada, realmente existem profissionais despreparados com ou sem diploma, por esta razão quem se propõe a instruir no meio cervejeiro deve incentivar seus alunos a fazer uma autorreflexão sobre suas reais motivações de buscar aquele conhecimento, assumir um papel de facilitador auxiliando-os a se encontrar dentro deste meio cheio de possibilidades, e assim eles terão mais motivação para estudar e se preparar constantemente dentro e fora de sala de aula, o diploma neste caso será só um detalhe.
Exatamente este é o ponto. O diploma é consequência, não o fim, como tentei expor no texto,mas por muitos não foi entendido. Infelizmente as pessoas lêem e interpretam suas ideias pré-concebidas, não o que de fato está escrito.
Concordo com o Theossi sobre o posicionamento e a obtenção de um diploma ou certificado.
Gostaria apenas de debater um pouco a parte “Acredito, sim, na capacidade técnica que leva alguém a ser convidado a julgar em concursos sérios.”, se fosse por capacidade técnica vejo muitas pessoas que poderiam estar nos concursos, mas não estão, simplesmente por serem novos no mercado, por não serem conhecidos ou por não trazerem mídia/mkt para tal concurso.
Por isso a forma de conseguir certificados, nacionais ou internacionais são importantes sim, uma forma de elevar a qualidade dos juízes que muitas vezes nem se quer conhecem o estilo que estão julgando.
Acho que alguns certificados perderam força devido ao volume a proposta de quem os entrega/forma, porém no BJCP ou até mesmo um CICERONE acredito no potencial de trazer confiança e qualidade para os julgamentos, destacando a importância do estudo contínuo sempre.
Olha Henrique, acho bem complicado afirmar que juízes em concursos sérios não conhecem o estilo que julgam. Participo de vários concursos, no Brasil e fora dele, e tenho me sentado à mesa com grandes mestres, a quem reverencio. Cada juiz é avaliado pela organização dos concursos sérios. Cada feedback de cervejarias concorrentes sobre as fichas recebidas é considerado para até mesmo cortar um juiz do corpo de juízes. E muitos, mas muitos deles, não têm certificado algum. Os que têm não se preocupam em exibi-los como troféus. Então, essa história de elevar corpo de juízes é meio arrogante, não? À propósito, os ” velhos de mercado” são muitas vezes aqueles que vão contratar um novato com certificado. Alguns velhos de mercado criaram estilos que os guias descrevem. Então, acho que ” os velhos” não são incompetentes com medinho de perder posto não. Eles estão aonde estão porque provaram sua competência. Conquistaram respeito, sabe? Não o impuseram não. Mas, o texto não era contra ter certificado( também tenho os meus), mas sim achar que é isso que faz um bom profissional. Pena que nem todo mundo consegue ler e entender o que está escrito, partindo para agressão em rede social. A proposta era de reflexão e debate, não de agressões tolas e torcidas por times.