Um fenômeno ocorre com quase todo mundo que conhece outro tipo de cerveja para além das pilsens. É bem comum que as pessoas descubram que o amargor não é tão ruim assim e passem a querer mais dele, cada vez em maior quantidade, porque se acostumam com o sabor e passam a perceber que ele é bastante gostoso. Amargor na cerveja, minha gente, vem do lúpulo! E em todo o mundo existem os “ cabeças de lúpulo”, aqueles fãs ardorosos da flor, que praticamente a veneram acima de todos os demais ingredientes da cerveja.
É certo que a descoberta do lúpulo muda mesmo nossos conceitos e parâmetros, tanto assim que passamos a querer identificar as inúmeras variedades que podem ser utilizadas. Em viagem recente aos Estados Unidos, país que mais tem desenvolvido novos varietais da planta, encontrei até batom de lúpulo (o que, é claro, fiz questão de trazer na mala!). Mas tão certo quanto a descoberta das características do lúpulo é a consciência de que uma cerveja com ênfase no malte também pode ser deliciosa.
De uns tempos para cá, tenho enjoado um pouco das cervejas com perfil desesperadamente lupulado. Gosto muito da bebida mais amarga, mas acho que às vezes o uso exacerbado da planta esconde algumas deficiências da cerveja. Estou numa fase de prestar mais atenção no perfil dos maltes utilizados, mesmo naqueles estilos cuja lupulagem se destaca. A riqueza que se pode obter com as várias nuances de torra do malte é algo muito instigante. É possível beber uma cerveja bastante pálida, com aromas muito suaves e sutis que lembram uma fatia de pão saindo do forno, como uma cerveja vermelha, viva, com cheiro de caramelo, de toffee, de biscoitos doces. Sem contar aquelas negras com aromas de café e chocolate tão pronunciados que chegamos a jurar que tais ingredientes foram acrescentados à bebida.
Uma das escolas cervejeiras de que mais gosto, acho que já declarei isso por aqui, é a inglesa. E o que me encanta nela é justamente o equilíbrio perfeito entre maltes e lúpulos. Uma cerveja inglesa carrega bem no lúpulo, mas ao mesmo tempo tem uma carga de malte tão potente quanto a da flor amarga. O resultado é que, quando bebemos, sentimos uma explosão de doçura e amargor na boca que não deixa a bebida ficar enjoativa. As cervejas inglesas não são cansativas! Pelo contrário, elas são elegantes, sóbrias, quase repousantes, eu diria que são revigorantes. Experimente encontrar tudo isso da próxima vez que beber uma IPA. Você vai se surpreender, tenho certeza!
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