Demorei muito a querer escrever sobre o Ateliê Wäls. Não porque tenha algo contra o lugar, ou porque não o tenha conhecido, muito menos porque não tenha ficado de queixo caído com a estrutura montada. Acho que a demora se deve muito mais às reflexões que a inauguração do espaço provocaram em mim. Já há muito mais de um ano eu, como várias outras pessoas, sabia do projeto. Cheguei a ver várias fotos da planta em autoCAD, mostradas pelos sócios José Felipe e Thiago. E dali já dava para entender que se tratava de algo grande, audacioso, muito mais do que qualquer sonho sonhado pela família Carneiro. Outro patamar de negócio, longe dos pequenos lançamentos românticos e com cara familiar que marcaram a trajetória da Wals até 2015, quando foi vendida à Ambev. Não vou me repetir em uma matéria falando do tamanho do lugar, do propósito e do design, nos moldes das inúmeras publicadas nas últimas semanas em diferentes e importantes veículos de comunicação, sites e blogs cervejeiros. Tais matérias já cumpriram o papel de divulgação proposto pelos releases distribuídos pelo departamento de marketing da companhia. Prefiro falar das minhas impressões e dividir algumas das reflexões que me fizeram postergar esse assunto até aqui. O Ateliê Wals é mesmo tudo aquilo que estão dizendo? me fizeram essa pergunta. E a única resposta que posso dar é: sim, é tudo aquilo e talvez mais. Porém, para mim – Fabiana Arreguy – faltam aconchego e calor humano.
No dia 1 de junho, data marcada para a festa de lançamento do Ateliê, ao chegar atrasada ao local, me deparei com a estrutura já vista em fotos, um monumento, construída como fachada. Linda, com a assinatura inconfundível do autor do projeto, arquiteto Gustavo Penna. É de embasbacar. Desci as inúmeras escadas que dão acesso ao salão e lá de cima, contemplando a festa que já corria solta no andar de baixo, vi dezenas de caras conhecidas, de profissionais e players do mercado cervejeiro nacional, de jornalistas vindos de vários cantos do país. Ali foi impossível barrar meus pensamentos que me levaram há pelo menos uns 8 anos antes, quando em visita à fábrica da Wals no bairro São Francisco, com os então editores do site Brejas, encontramos um pequeno espaço, metade fábrica de suco, metade de cerveja. E ali mesmo, rente ao portão, uma mesinha redonda com garrafas dos poucos rótulos que eram produzidos pela Wals para que as experimentássemos. Ao chão, uma caixa repleta de garrafas de 700 ml, arrolhadas, com a cerveja Dubbel recém lançada. Era um lote que sofrera contaminação e que seria descartado. Me lembro que todos nós levamos quantas garrafas pudemos carregar para casa, na esperança de encontrar alguma não contaminada. Posso dizer que dei essa sorte. As minhas garrafas estavam todas sãs.
A festa correndo solta no Ateliê, com 21 bicos plugados, servindo rótulos já conhecidos e outros 10 lançamentos. Comida do incensado chef Felipe Rameh. Vídeos de Zé Felipe e Thiago falando de mais essa realização. Tudo um luxo, minimamente pensado em seus detalhes. Mas novamente minha cabeça longe, lembrando da querida Ustane, mamãe Wäls, cozinhando um franguinho caipira na cozinha da fábrica para almoçarmos por lá. Ou da festa de lançamento da Saison de Caipira, feita anos antes em parceria com Garrett Oliver, em que um leitão era assado na brasa do lado de fora, enquanto Miguel e Zé Felipe tocavam sax para deliciar seus convidados. Nada sofisticado, mas era tudo tão cheio de afeto. Me lembrei também das inúmeras vezes que tocou meu telefone e eram Thiago ou Zé Felipe pedindo uma força na divulgação de alguma novidade lançada por eles, na certeza que podiam contar com minha amizade. Eram trâmites bem mais simples, por certo. Sem marcação de hora, sem entrevistas agendadas pelo departamento de marketing. Leis de mercado, como fugir delas?
Ao longo da noite, vendo tanta gente se deliciando com as boas cervejas, se admirando com a inovação do lugar, percebi que a grandiosidade é algo que me assusta. Talvez eu esteja ficando anacrônica… certo é que tenho preferido ir ao boteco da esquina comer torresminho com uma Lager qualquer, prestigiar os pequenos bares de fábrica dos meus amigos cervejeiros, beber em casa sem muita agitação, sem filas e senhas para entrar. Se você me perguntar se frequentarei o Ateliê, minha resposta será : pode ser que sim, eventualmente, muito longe da assiduidade. É um bom lugar para levar quem vem de fora, ou um grupo de amigos baladeiros, não para sentar-se calmamente, impunemente, sem pressa, sem grandes produções.
Não tenho dúvidas que o Ateliê veio revolucionar o mercado com seus mais de mil barris para envelhecimento de cervejas, assim como não duvido da qualidade do que será produzido ali, principalmente conhecendo os talentosos profissionais que fazem parte hoje do time Wals. Tenho muito orgulho de ver aonde Zé e Thiago chegaram, mesmo com tão pouca idade. Esses meninos que são para mim como irmãozinhos caçulas, daqueles que vemos moleques e acompanhamos o crescimento cheios de corujice. No entanto, temo pelo que um empreendimento desse porte pode provocar ao ainda tão pequeno mercado craft ( isso, inclusive, já foi abordado em outro post). E não me venha falar que é uma evolução para todo mundo. Sabemos que não funciona assim. Espero, de verdade, que eu esteja enganada e possa ver que essa iniciativa renderá bons frutos para toda a cadeia da cerveja artesanal no Brasil. Aguardemos, pois o tempo é o maior senhor dos destinos.
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Há uns quatros anos eu ouvi falar desse local, no bairro São Francisco, tal qual descrito pela colunista. Sempre dizia que iria visitar a cervejaria e acabou não acontecendo. Mas pelo o que eu entendi, o lugar já não é o mesmo, engrandeceu, modernizou-se. Bom, creio que isso deveria ser visto como algo muito positivo. Nós brasileiros temos mania de querer que tudo permaneça como está, tipo, aquela estradinha de terra; aquela casinha sem luz com fogão à lenha, aquele estádio com assentos de alvenaria com ambulantes espalhados pelas portarias, etc. Para ser rústico não é preciso ser decadente. Um investimento dessa envergadura só faz com que o bairro, a região, a cidade ganhe. Temos que acabar com esse sentimento que carregamos de complexo de superioridade e reflexo de inferioridade que temos. Não se cresce no mundo dos negócios mantendo um boteco como cartão de visitas.
Caro Ivan, o texto se refere a outro espaço inaugurado pela cervejaria,em outro bairro, em outros moldes. E não, não se trata de complexo de inferioridade, mas sim de valorização do que é próximo, do que é genuíno, do que é artesanal de verdade. E não se trata de crescer nos negócios, sendo agora a cervejaria em questão uma parte do maior grupo cervejeiro do planeta.
Eu concordo em parte com seu comentário, mas também estou de acordo com o posicionamento da nobre amiga. A Wals, como qualquer empresa, tem direito de ganhar o máximo de dinheiro possível. Ter lucro não é pecado; ao revés, fomenta o investimento, emprego, etc. Contudo, a crítica dela, ao meu ver, ter outro viés. Eu, assim como ele, costumo fugir de lugares glamorosos. Não por sentimento de superioridade ou inferioridade, mas porque em tais lugares paga-se mais pelo ambiente do que pelo produto. Lugares mais simples são mais agradáveis e mais baratos. Simples assim. Quer um exemplo? Baden baden. Sinceramente, estive em Campos do Jordão três ou quatro vezes e não tenho a mínima vontade de ir ao local, por dois motivos: lotado e muito caro. Lá as pessoas pagam para tirar foto e postar de gostosão nas redes sociais, pois o cardápio de lá é um dos mais caro da cidade. Há pessoas que ficam horas na fila de espera por um lugar na varanda! Horas! Não me importo com quem vive assim. Se são felizes assim e querem pagar por isso, ótimo para o dono do bar e ótimo para eles. Ótimo para economia da cidade, etc. Contudo, eu e mais algumas pessoas não estamos à procura disso: preço alto e ambiente refinado e bacana. Preferimos ambientes mais intimistas e com preços mais baratos. São dois públicos distintos e cada qual procura seu lugar. Simples. Eis a mensagem dela: se quer um ambiente bacana e curtir pôr do sol (vide o facebook da Wals! Só mostram o ambiente e nada de cerveja), vá até a Wals. Se quer algo mais tranquilo e com mais "calor humano", procure outro bar. Simples assim. Eu costumo transitar entre os dois ambientes. Não sou radical e nem nossa amiga do blog, mas quando pudemos escolher, acredito que sempre iremos ao local menos badalado. Não porque somos superiores, mas porque é o ambiente que nos deixa mais alegres e confortáveis. Abraços!
Há uns quatros anos eu ouvi falar desse local, no bairro São Francisco, tal qual descrito pela colunista. Sempre dizia que iria visitar a cervejaria e acabou não acontecendo. Mas pelo o que eu entendi, o lugar já não é o mesmo, engrandeceu, modernizou-se. Bom, creio que isso deveria ser visto como algo muito positivo. Nós brasileiros temos mania de querer que tudo permaneça como está, tipo, aquela estradinha de terra; aquela casinha sem luz com fogão à lenha, aquele estádio com assentos de alvenaria com ambulantes espalhados pelas portarias, etc. Para ser rústico não é preciso ser decadente. Um investimento dessa envergadura só faz com que o bairro, a região, a cidade ganhe. Temos que acabar com esse sentimento que carregamos de complexo de superioridade e reflexo de inferioridade que temos. Não se cresce no mundo dos negócios mantendo um boteco como cartão de visitas.
Caro Ivan, o texto se refere a outro espaço inaugurado pela cervejaria,em outro bairro, em outros moldes. E não, não se trata de complexo de inferioridade, mas sim de valorização do que é próximo, do que é genuíno, do que é artesanal de verdade. E não se trata de crescer nos negócios, sendo agora a cervejaria em questão uma parte do maior grupo cervejeiro do planeta.
Eu concordo em parte com seu comentário, mas também estou de acordo com o posicionamento da nobre amiga. A Wals, como qualquer empresa, tem direito de ganhar o máximo de dinheiro possível. Ter lucro não é pecado; ao revés, fomenta o investimento, emprego, etc. Contudo, a crítica dela, ao meu ver, ter outro viés. Eu, assim como ele, costumo fugir de lugares glamorosos. Não por sentimento de superioridade ou inferioridade, mas porque em tais lugares paga-se mais pelo ambiente do que pelo produto. Lugares mais simples são mais agradáveis e mais baratos. Simples assim. Quer um exemplo? Baden baden. Sinceramente, estive em Campos do Jordão três ou quatro vezes e não tenho a mínima vontade de ir ao local, por dois motivos: lotado e muito caro. Lá as pessoas pagam para tirar foto e postar de gostosão nas redes sociais, pois o cardápio de lá é um dos mais caro da cidade. Há pessoas que ficam horas na fila de espera por um lugar na varanda! Horas! Não me importo com quem vive assim. Se são felizes assim e querem pagar por isso, ótimo para o dono do bar e ótimo para eles. Ótimo para economia da cidade, etc. Contudo, eu e mais algumas pessoas não estamos à procura disso: preço alto e ambiente refinado e bacana. Preferimos ambientes mais intimistas e com preços mais baratos. São dois públicos distintos e cada qual procura seu lugar. Simples. Eis a mensagem dela: se quer um ambiente bacana e curtir pôr do sol (vide o facebook da Wals! Só mostram o ambiente e nada de cerveja), vá até a Wals. Se quer algo mais tranquilo e com mais “calor humano”, procure outro bar. Simples assim. Eu costumo transitar entre os dois ambientes. Não sou radical e nem nossa amiga do blog, mas quando pudemos escolher, acredito que sempre iremos ao local menos badalado. Não porque somos superiores, mas porque é o ambiente que nos deixa mais alegres e confortáveis. Abraços!
O que eu realmente eu gostaria de ver é a popularização das artesanais, onde pudéssemos encontrar uma boa artesanal em bares menores, sem o status gourmet.
A famosa gourmetização espanta, não é? Mas existem opções de bares menores com cervejas artesanais boas. Dá uma lida no post sobre o Juramento 202 que publiquei há duas semanas
O que eu realmente eu gostaria de ver é a popularização das artesanais, onde pudéssemos encontrar uma boa artesanal em bares menores, sem o status gourmet.
A famosa gourmetização espanta, não é? Mas existem opções de bares menores com cervejas artesanais boas. Dá uma lida no post sobre o Juramento 202 que publiquei há duas semanas
Acho que aqui em BH tem muito de " inauguração". Acho que daqui um tempo vai ficar mais tranquilo e melhor para sentar, comer e beber... é claro. Achei lá lindo mas realmente não tem um aconchego. Muita gente bonita, produzida. Prontas para a balada. Coisa típica de BH. Desejo sorte e com certeza não vou deixar de frequentar de vez enquanto.
Exatamente isso, Cinthia. Não disse que nunca irei ao lugar, mas não será o " meu" lugar de escolha frequente
Realmente o lugar ficou maravilhoso, mas pecou por querer passar tanta opulência. Falta aconchego e até de certa maneira conforto. Acho que a questão ficou mais presa num projeto megalomaníaco, de mostrar riqueza do que preocupação com o público. Prova disso é divulgar não sei quantas ripas de madeiras, não sei quantos parafusos, e número X de rolhas. Mas chegando lá se senta em banquinhos sem encosto com mesas baixas, meio improviso. Repetindo, uma lugar maravilhoso, mas não sei se volto!
Realmente o lugar ficou maravilhoso, mas pecou por querer passar tanta opulência. Falta aconchego e até de certa maneira conforto. Acho que a questão ficou mais presa num projeto megalomaníaco, de mostrar riqueza do que preocupação com o público. Prova disso é divulgar não sei quantas ripas de madeiras, não sei quantos parafusos, e número X de rolhas. Mas chegando lá se senta em banquinhos sem encosto com mesas baixas, meio improviso. Repetindo, uma lugar maravilhoso, mas não sei se volto!
falou e disse... wals com ambev da "medo"... será que ainda tem alguma coisa de artesanal nessa produção em série? logo do lado do templo da backer, seria um "dumping" pra ambev acabar com todas as pequenas que estão aparecendo? sou mais ficar nas realmente artesanais e evitar a wals... já basta de brama, skol, bud e etc dominando o mundo
falou e disse... wals com ambev da "medo"... será que ainda tem alguma coisa de artesanal nessa produção em série? logo do lado do templo da backer, seria um "dumping" pra ambev acabar com todas as pequenas que estão aparecendo? sou mais ficar nas realmente artesanais e evitar a wals... já basta de brama, skol, bud e etc dominando o mundo
Desde a inauguração venho querendo conhecer o Ateliêr, porém, nunca que dava certo de marcar de ir. Então esse fim de semana eu decidi conhecer e estava procurando algum tipo de referência do lugar, foi dai que me deparei com essa postagem, que me trouxe um saudosismo muito grande do início, mesmo que recente, de tudo. Enchi os olhos d'água com seu relato e o entendi perfeitamente. Não que eu tenha tido proximidade com a família carneiro ou alguém ligado a cervejaria, mas simplesmente por ser um fã da cerveja, a qual me introduziu no mundo das cervejas especiais. Sempre acompanhei de longe o crescimento da Wals e ficava na torcida pelo sucesso de Thiago e Zé Felipe. Seu relato não trouxe em nenhum momento sentimentos que pudessem me fazer deixar de querer conhecer o lugar, simplesmente me instigaram um lado saudosista. Espero que o lugar seja aquilo mesmo que me falaram e que o aconchego esteja presente. Parabéns pelo trabalho!
Vá lá, sim! Não vai sair decepcionado, não. É lindo, moderno e com comidas/cervejas deliciosas! O saudosismo é um detalhe nisso tudo!