Um auto-papo cervejeiro altamente esclarecedor e educativo
Pão e Cerveja

O que o público consumidor leigo pensa e quer saber sobre cerveja

Entro no Uber, ao sair do curso da Academia Sommelier de Cerveja, realizado sempre às segundas-feiras à noite. Motorista solícito, me pergunta se quero que ele mude de rádio, que desligue o ar, que siga o GPS. Respondidas todas as questões, ele começa a entabular uma conversa para lá de útil a nós, players do mercado artesanal de cerveja, afinal é preciso entender o que e como nos comunicamos com o público fora da nossa bolha. Segue o auto-papo cervejeiro:

Motorista: Saindo do seu happy hour, é?

Eu: Não…na verdade estava trabalhando, saindo de um curso que ministramos aqui nesse espaço toda segunda-feira.

Motorista: Curso de que?

Eu: De Sommelier de Cerveja

Motorista: Hum… entendi… o que é ensinado num curso desses?

Eu: Bom… o Sommelier de Cerveja é o profissional que trabalha diretamente ligado ao serviço da cerveja, como acontece com o Sommelier de vinho. Então ele aprende no curso sobre a história da bebida, sobre os muitos ” tipos” de cerveja existentes, sobre a forma ideal de apresentá-la, desde os copos usados, à temperatura e também na combinação dela com comida. ( Tento ser didática, sem usar jargões e termos que não diriam nada a ele.)

Motorista: Fala aí uma cerveja boa!

Eu: Nossa… existem tantas, não saberia te dizer uma específica aqui.

Motorista: Eu acho que uma boa cerveja é a Backer, conhece?

Já me animo, afinal ele conhecia alguma cerveja artesanal, o que já é um bom começo de conversa.

Eu: sim, conheço muito. Dessa cervejaria eu gosto demais da American Pilsen Três Lobos, da Capitão Senra, da Bravo, da Julieta

Motorista: Tem a Belorizontina

Eu: é… essa cerveja tem feito muito sucesso, né? Tem preço bom também…

Motorista: Sim, tem preço bom mesmo. Mas a cerveja que eu gosto mesmo, que não resisto é a Original! Essa é a melhor de todas!

Minha animação cai um pouco, pois o conhecimento que havia julgado no início não era tanto assim…

Eu: Dessas industriais a que eu tomo é Heineken

Motorista: ah! não gosto! É muito forte!

Eu: é muito amarga pro seu gosto?

Motorista: Isso! Amarga demais… a Original é boa porque é docinha!

Eu: Bom, a Budweiser é mais docinha ainda

Motorista: Mas ela me dá muita dor de cabeça no dia seguinte

Eu: Há quem reclame que tem cerveja que dá dor de barriga…

Motorista: Dor de barriga mesmo a que dá é Kaiser! Deus me livre! Meu cunhado outro dia serviu só Kaiser numa festa, passei foi mal no outro dia!

Eu: Conheço uma pessoa que diz isso da Itaipava..

Motorista: Itaipava…nem vou comentar! (?) ( sinto um ar de muchocho aqui e quem prefere nem comentar sou eu)

Motorista: E essa história de fazer cerveja em casa? É verdade? Tenho um amigo que diz que faz

Eu: Verdade, sim! Tem muita gente que faz cerveja em casa.

Motorista: Mas não precisa de um equipamento desses de fábrica? Achei que era impossível ter um equipamento assim em casa

Eu: Tem um pequeno equipamento necessário, sim. Mas nada impossível ou tão caro que impeça algum interessado em fazer cerveja de comprar

Motorista: Esse meu amigo vende imóveis… cada vez que ele vende um apartamento, deixa garrafas da cerveja que faz com a foto dele no rótulo de presente no imóvel

Eu: E é boa a cerveja? Você já provou a dele?

Motorista: Não… também nunca comprei apartamento com ele!

Fim da conversa. Chegamos ao meu destino. Agradeço e desejo boa noite ao moço, que me responde com um vai com Deus.

Desço e a conversa não sai mais da minha cabeça. Repasso as afirmações dele em minha cabeça e chego a algumas conclusões sobre os temas que de fato interessam ao público leigo em cerveja ouvir:

  • . Amargor ( que parece ser defeito. Note-se que não para mulheres, como tantos afirmam, mas para homens também). Boa oportunidade para falar sobre lúpulo e suas propriedades ou características.
  • . A competição entre rótulos ainda é forte ( e não entre rótulos artesanais, mas os mainstream mesmo). O grande desafio é mostrar outras opções.
  • . Não há entendimento claro sobre o conceito, o termo, o que representa ” cerveja artesanal”. A pergunta sobre a boa cerveja sempre se refere a um dos rótulos mainstream citados acima. Portanto é Pilsen, ou melhor, American Lager, que abre mesmo as portas. Nosso foco deve ser nela para conquistar novos consumidores.
  • . Cerveja feita em casa ainda é encarada como coisa do outro mundo, sim! Mas é o mote para mostrar a cerveja sob outro ângulo, mais interativo. Isso envolve as pessoas.

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Ou ouça aqui a coluna diária Pão e Cerveja da Rádio CDL FM de Belo Horizonte

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal UAI.

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Saulo Vasconcelos

Olá.
Algumas coisas que percebi ao longo dos anos é que algumas pessoas que fazem cerveja “se acham superior a quem não faz ” , já ouvi de alguns amigos e isso gera alguma repulsa sobre fazer cerveja, dependendo com quem conversa.
Cerveja boa é aquela que você está tomando no momento ( não lembro aonde li essa frase, talvez na época em fui conhecer o Frangó ), então comigo não tem aquela coisa de : “só bebo puro malte ”
“Não bebo cerveja com milho ” e por aí vai….
Certa vez em um aniversário de um amigo compramos dois barris: um Pilsen basicão de 50 L e um IPA de 30 L . A IPA acabou primeiro, as pessoas provavam e sempre a primeira reação era sobre o amargor, mas depois começavam a perceber as diferenças e não voltavam mais para a Pilsen.

Saulo Vasconcelos

Olá.
Algumas coisas que percebi ao longo dos anos é que algumas pessoas que fazem cerveja “se acham superior a quem não faz ” , já ouvi de alguns amigos e isso gera alguma repulsa sobre fazer cerveja, dependendo com quem conversa.
Cerveja boa é aquela que você está tomando no momento ( não lembro aonde li essa frase, talvez na época em fui conhecer o Frangó ), então comigo não tem aquela coisa de : “só bebo puro malte ”
“Não bebo cerveja com milho ” e por aí vai….
Certa vez em um aniversário de um amigo compramos dois barris: um Pilsen basicão de 50 L e um IPA de 30 L . A IPA acabou primeiro, as pessoas provavam e sempre a primeira reação era sobre o amargor, mas depois começavam a perceber as diferenças e não voltavam mais para a Pilsen.

Heitor Silva

Adorei o post, o bate-papo e toda a dinâmica da coisa Fabi. Incrível como a estrada se mostra ainda muito longa! Vamos nessa pois o desafio é grande e ainda tem muita água para passar debaixo da ponte!

Adriano Nunes

Quanta IRRELEVÂNCIA!!!!