Dias atrás, ganhei de presente uma cerveja que tem provocado discussões acaloradas nas redes sociais. Ela foi anunciada como a mais amarga, de todas as cervejas amargas, do Brasil. Chamada 1000 IBU, a Imperial IPA da cervejaria Invicta é uma cerveja comemorativa; portanto não sabemos se vai continuar sendo fabricada. De qualquer maneira, a 1000 IBU já nasceu debaixo de discussões sobre o que é apenas marketing e o que, de fato, é resultado quando o assunto é cerveja.
As discussões giram em torno do limiar de percepção humana para uma bebida amarga. Já tive oportunidade de falar, aqui mesmo, sobre as unidades de medição do amargor, ou IBU – sigla para International Bittering Units. Essa graduação chega oficialmente até 100, marca máxima do que nosso paladar consegue perceber. Mas não é de hoje que várias cervejarias pelo mundo afora se arriscam a lançar rótulos com a medida estendida, chegando a 130, 150 IBUs.
Agora, foi a vez de a brasileira Invicta radicalizar e lançar a tal cerveja, que a multiplica por 10. A polêmica veio junto do lançamento e não foram poucas as críticas de que se tratava de puro marketing, pois se não conseguimos perceber o amargor acima de 100 IBUs, qual a razão de uma cerveja que, em tese, atingiria as 1.000 unidades?
Para mim, é muito clara a questão. Qual o problema em se fazer alarde de uma novidade como essa? Todos fazem marketing de seus produtos e até de si mesmos! A intenção é ser visto, é ser ouvido, é que se fale de determinado assunto ou produto, ou personalidade. E isso a Invicta conseguiu. Atraiu para si holofotes. Muita gente querendo experimentar a cerveja, a tal ponto de o produto esgotar-se na fábrica em poucas semanas de venda. E aí passamos para uma segunda fase do processo: vale a
pena experimentar a cerveja de 1000 IBUs?
Afirmo que sim! Toda experimentação é válida. E no caso dessa específica cerveja, é uma bebida muito bem elaborada. Gostosa e perfumada, pois além de amargor, o lúpulo imprime aromas florais muito interessantes, lembrando rosas. No sabor, a cerveja obviamente é amarga, mas não a ponto de querermos correr dela. Pelo contrário, como leva uma boa carga de malte, em parte caramelado, o doce do grão forma uma proteção natural na boca para a pancada de lúpulo que virá a seguir. O que fica no final é um amargor abrandado, nada resinoso, com a sensação de limpeza do paladar que nos chama para mais um gole. Dever cumprido pela cerveja, boa de ser bebida!
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal UAI.