Outro dia, alguém me disse que não está convencido de que pão combine com cerveja. A lógica é que pão incha quando ingerido em companhia da bebida. Ora, minha resposta foi simples, não se trata de combinar, pois pão e cerveja são duas faces de
uma mesma moeda.
A base do pão é a mesma da cerveja. Grãos, água e fermento. O lúpulo, acrescentado à bebida como conservante natural, como fonte de amargor e aroma, é um ingrediente a mais, tal qual no pão acrescentam-se frutas, nozes,
ervas ou temperos.
A cerveja é uma das marcas da descoberta da agricultura. Há estudiosos que defendem que ela é o motivo de o homem ter aprendido a domesticar os grãos. Exageros à parte, a manipulação dos grãos, por certo, se deu para que o alimento fosse preparado. E esse alimento era o pão- fosse ele sólido ou líquido, cerveja!
Na Mesopotâmia, se obtinha cerveja a partir do pão. A bebida produzida assim era chamada bouza. Os grãos eram grosseiramente quebrados e colocados em água para amolecer, formando um mingau. Depois, essa pasta era seca e formava pequenos bolos, duros, guardados para futuras refeições. Não podemos nos esquecer que foi a descoberta dos grãos, e a possibilidade de se alimentar deles, que fixou o homem nos lugares. Até então eles eram nômades, viajavam em busca de calor e alimento, quando as condições climáticas e de caça assim o determinavam.
Vem daí a sabedoria de guardar o alimento, os grãos secos, macerados e transformados em bolos, para as intempéries futuras. Nas refeições, as mulheres – responsáveis pela preparação do alimento – dissolviam os bolos de grãos novamente em água para dar origem aos pães e ao mingau, que fermentado pelas leveduras presentes no ar, virava uma bebida agradável de se tomar.
Se a dúvida inicial era sobre combinar cerveja e pão, minha dica é procurar estilos da bebida que caem bem ao acompanhar sua versão sólida. Um pão recheado de chocolate, por exemplo, com uma Falke Ouro Preto ao seu lado, pode
ser um poema para um fim de tarde feliz.
Entre os sumérios, a tarefa de produzir cerveja ficava a cargo das mulheres, responsáveis também por preparar o pão. Eram uma espécie de padeiras, que produziam o pão sólido e o líquido.
Para a produção da cerveja, as padeiras sumérias deixavam a cevada de molho até germinar. Depois disso, moíam grosseiramente os grãos germinados e os moldavam em forma de bolos, aos quais era adicionada levedura. Esses bolos eram ligeiramente assados e logo depois esfarelados, para então serem jogados em jarros com água, onde eram deixados para fermentar. Por isso cerveja na Suméria era chamada de pão líquido.
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