Selo de cervejaria independente. Não está na hora de o Brasil também ter um?

Lendo sobre o selo Independent Craft, lançado pela Brewers Association, entidade sem fins lucrativos que reúne as cervejarias artesanais americanas, entendo que as reações contra a Ambev e seu avanço sobre pequenas cervejarias pelo mundo começam a ficar interessantes. Digo isso porque tenho batido na tecla de que são necessárias ações inteligentes e estratégicas para conseguir atingir um gigante, tal qual a luta desigual de Davi e Golias. Ano passado, em um post que muitos acusaram ser vendido à Ambev, eu tentava discorrer sobre isso ( leia o post ) e já dizia que não bastavam ” arremedos de reações” nessa luta. E mais, eu rejeitava a culpabilização do consumidor por escolher comprar as cervejas feitas pela grande indústria. Afinal, o poder aquisitivo fala mais alto. O desconhecimento do mercado também fala e diante de tantas ofertas, escolher aquela cerveja mais famosa, que tem mais presença nas peças publicitárias, e ainda por cima é mais barata, é o caminho mais seguro sob o ponto de vista do consumidor. O que esse consumidor não sabe é que a concorrência desleal e a nociva prática de dumping adotadas pelo grupo cervejeiro que busca hegemonia pode estar matando o sonho, o negócio de um amigo, de um vizinho, de um parente. Fazer chegar essa informação ao mercado é a estratégia melhor neste momento. Informação! Como estamos carentes dela! O selo Independent Craft, apesar de parecer uma ação bobinha, é bastante estratégica e efetiva, porque justamente joga luz sobre a verdade. Há cervejas realmente artesanais e há cervejas disfarçadas como tal. Isso o consumidor não sabe. E só vai saber quando sinalizarmos a ele. A partir daí, as escolhas passam a ser conscientes.

Eu continuo achando pobre e feio levar essa briga para âmbito pessoal, exatamente como escrevi no ano passado.  Ofensas ao cervejeiro, à família, ao nome, ao passado de quem já foi artesanal e vendeu sua empresa à Ambev, são totalmente despropositadas e sem utilidade alguma, a não ser acender a sanha de quem adora ver um circo,qualquer circo, pegar fogo! Disso as redes sociais estão lotadas! Esse tipo de reação é ineficaz e antipático. Já um selo, ou marca, que se traduz em transparência, para mim é bem mais inteligente. Tanto assim que indago: cervejarias artesanais brasileiras, não está na hora de empreendermos uma ação semelhante? Nosso mercado não merece saber quais cartas estão no jogo??

Advogado do diabo

Há quem duvide que o selo de independência do B.A dê em alguma coisa. Um advogado corporativo que atua no segmento de cervejas, ele prefere não se identificar, me levantou algumas suspeitas de que a Ambev poderia ser sócia oculta de várias cervejarias artesanais que se dizem independentes hoje. Ele citou o exemplo da compra de parte do Ratebeer feita através da ZX Ventures, operação ao qual ele chama de tramoia. O advogado, mesmo admitindo que pode estar viajando em teorias conspiratórias, levanta a suspeita de que a Ambev poderia criar uma série de empresas fantasmas e aportar dinheiro nas artesanais que lhe interessam ( ele cita o nome de uma cervejaria do sul do Brasil que já poderia perfeitamente estar vivendo esse esquema…). Assim sendo, muitas cervejarias ganhariam o selo de Cervejaria Independente, mesmo já tendo vendido sua alma ao diabo. É de se pensar, não?

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Fabiana Arreguy

Ver Comentários

  • A dúvida do nosso amigo advogado é bastante pertinente e, muito provavelmente, é o que vai acontecer. Mas qual o problema se para nós consumidores o que realmente interessa é o produto final de qualidade? E o custo óbvio!

    • Aí é que está, Marcelo! Para o consumidor só interessa a qualidade do produto, independente do mal que a empresa produtora possa ter causado ao mercado? Boas práticas e ética não representam absolutamente nada para o consumidor? Apenas o preço é que define as escolhas? Preciso acreditar que não! E prefiro saber de quem estou comprando. Ainda que opte por esse tipo de critério que você citou. A liberdade de escolha só existe quando sabemos as opções que existem para escolhermos. Do contrário, não é liberdade, mas sim uma ditadura.

      • Acho este modo de pensar meio romântico para uma economia notadamente capitalista. Tenho amigos cervejeiros que acompanho desde dos primórdios de 2007/2008 que hoje colocam no mercado cervejas de altíssima qualidade. Se resolverem algum dia vender sua cervejaria a um grande fabricante, respeitando as leis de mercado, e este continuar a entregar o mesmo produto ao mercado por um preço até mais competitivo (ganho de escala), que mal há nisso? Continuo com minha liberdade de escolha da mesma forma. Agora, se estamos falando em dumping e outras falcatruas capitalistas para ganhar mercado em detrimento de qualidade, aí é outra história.

  • A dúvida do nosso amigo advogado é bastante pertinente e, muito provavelmente, é o que vai acontecer. Mas qual o problema se para nós consumidores o que realmente interessa é o produto final de qualidade? E o custo óbvio!

    • Aí é que está, Marcelo! Para o consumidor só interessa a qualidade do produto, independente do mal que a empresa produtora possa ter causado ao mercado? Boas práticas e ética não representam absolutamente nada para o consumidor? Apenas o preço é que define as escolhas? Preciso acreditar que não! E prefiro saber de quem estou comprando. Ainda que opte por esse tipo de critério que você citou. A liberdade de escolha só existe quando sabemos as opções que existem para escolhermos. Do contrário, não é liberdade, mas sim uma ditadura.

      • Acho este modo de pensar meio romântico para uma economia notadamente capitalista. Tenho amigos cervejeiros que acompanho desde dos primórdios de 2007/2008 que hoje colocam no mercado cervejas de altíssima qualidade. Se resolverem algum dia vender sua cervejaria a um grande fabricante, respeitando as leis de mercado, e este continuar a entregar o mesmo produto ao mercado por um preço até mais competitivo (ganho de escala), que mal há nisso? Continuo com minha liberdade de escolha da mesma forma. Agora, se estamos falando em dumping e outras falcatruas capitalistas para ganhar mercado em detrimento de qualidade, aí é outra história.

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