Cervejarias de MG apostam em receitas de cervejas do Leste Europeu

Daniel Gontijo e Fabiana Arreguy na Festa de 3 anos do Pão e Cerveja

Do ano passado para cá foram cinco receitas de cerveja tradicionais dos países do leste europeu lançadas em Minas Gerais. Todos os lançamentos com um elemento em comum: o desenvolvedor delas, Daniel Gontijo. Por sua facilidade de acesso aos países daquela região, onde trabalha desde o início dos anos 2000, além de uma curiosidade infinita para pesquisar o assunto, Daniel ( que se mantém homebrew, sem nunca ter registrado sua cervejaria – Smedgard, nem ter optado por produção cigana) vem estudando a fundo as tradições cervejeiras de países como Rússia, Lituânia, Polônia, Ucrânia, Alemanha Oriental. A partir de suas pesquisas, ele foi recuperando  receitas tradicionais e, com base nelas, desenvolvendo as suas próprias. Fez isso por mais de uma década, guardando tais receitas para um dia produzi-las. E esse dia chegou! Mais de uma vez, por sinal! Através de parcerias e colaborações, as cervejarias mineiras resolveram apostar na tradição cervejeira do Leste Europeu alardeada por Daniel. Resultado: belíssimas cervejas estão no mercado, mostrando que a volta à tradição pode ser muito mais cool do que “inventações geeks pós-modernas”!

Desconhecimento

Daniel Gontijo avalia que nossa leitura sobre os estilos cervejeiros clássicos europeus  foi forjada nas décadas de 80 e 90. ” Aqueles pesquisadores, autores ou jornalistas, que se debruçaram sobre o assunto se ativeram aos países que não faziam parte do bloco soviético. Ninguém tinha acesso aos países do leste, ninguém podia visitá-los, então os estilos de cerveja tradicionais desses locais foram ignorados.”

Hoje temos acesso à região, mas os guias e publicações sobre estilos pouco mencionam as cervejas do leste europeu. E, olha que são cervejas maravilhosas, sem a preocupação de se diferenciar em redes sociais, sem a necessidade de serem extremas. Cervejas para serem apreciadas no paladar, não no conceito. Esse movimento de retorno à tradição, à busca pelo que é genuíno, já se mostra em várias localidades do mundo, inclusive nos Estados Unidos que tanto pautam os cervejeiros do Brasil.

Minas Gerais, que tem sido vanguardista em vários momentos do avanço da cerveja artesanal no país, enxergou isso logo. Quatro cervejarias fecharam parceria com Daniel Gontijo, produzindo as receitas que ele desenvolveu. A quinta cervejaria, mencionada no inicio deste post, não é mineira. Foi a Dum, de Curitiba, que produziu colaborativamente com ele. Por isso, a cerveja traz metade do DNA de Minas Gerais.

As cervejas

1)Powstanie Warszawskie – produzida em colaboração com a DUM. Uma lager bem leve de centeio e lúpulos poloneses colhidos pelos próprios cervejeiros Daniel e Murilo Foltran, que participaram também do batismo da nova variedade eslava da planta. O lúpulo foi chamado de “Vermelho” e assim registrado no Instituto Polonês de Lúpulo.


2) Red Crow Brunt Öl – produzida especialmente para o bar viking Svärten Mugg ( do qual já falamos por aqui) na fábrica da Cervejaria Albanos do Brasil, com a colaboração do cervejeiro Pablo Carvalho.  Uma brown ale bem leve que prestigia o maltado com um toque defumado. Brunt Öl foi um estilo de cerveja clássico da Suécia e Dinamarca até a primeira guerra mundial.


3) Kaimishkas -colaborativa com a cervejaria Brücke, de Nova Lima. Uma espécie de farmhouse lituana com o gruit  trazido de lá pelo Daniel . As farmhouses lituanas são únicas, tradicionais e possuem diferentes nomes. Um deles é Kaimishko, por isso o nome da cerveja.
4)  Ostblock – colaborativa com a cervejaria Vinil, também de Nova Lima. Uma Doppel-Karamell, estilo clássico da Alemanha Oriental. Também leve e bem maltada, utilizando método de mosturação alemão Springmaische. Será lançada no  dia 21 de junho de 2018.

5)Bernardyńskie – colaborativa com a Backer, de Belo Horizonte, foi produzida para ser a cerveja comemorativa dos 25 anos da rede de supermercados Verdemar. Um estilo clássico prussiano, que até pouco tempo era produzido na Polônia. Ele possui sub-estilos e ampla variação de densidade e teor alcóolico. Na receita elaborada para este rótulo, Daniel optou por uma cerveja mais leve e equilibrada, em sintonia com o perfil de consumo do brasileiro. Tem notas defumadas e bastante foco no malte.

O melhor de tudo: todas essas cervejas estão no mercado, fáceis de serem encontradas. 

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