Confesso que duvidei quando, há uns três anos, ouvi dizer que a tendência forte de consumo eram as cervejas azedas. Duvidei porque, para mim, elas eram muito fora do nosso padrão de consumo e, por isso, não cairiam no gosto do público. Me enganei no meu ceticismo, ainda bem! As cervejas azedas pegaram com força no Brasil! Já há confrarias de degustadores somente para elas! Nem vou chamá-las de ácidas ou sours, porque azeda faz mais sentido ao nosso paladar. Elas são exatamente isso. E o mais legal, tem cerveja azeda para todo tipo de público! Até mesmo para quem rejeita o sabor de primeira, há chances de encontrar alguma que não lhe cause tanta repulsa.
O sabor azedo é um dos que mais rejeitamos, tanto quanto o amargor. Isso porque ele nos remete a alimentos deteriorados, que devemos deixar de lado para não nos causar mal. Assim, herdamos atavicamente a repulsa pelo que é azedo, embora alguns alimentos lácticos, como iogurtes por exemplo, façam parte de nossa dieta sem assustar. Talvez o que provoque a rejeição, no caso das cervejas azedas, seja o contexto. Não é comum ao que a maioria conhece como cerveja encontrar azedume, por isso ao topar com uma delas, é natural torcer o nariz. Uma das cenas mais engraçadas que vi relacionada a isso foi a matéria do Globo Repórter sobre a Bélgica, quando o repórter Edney Silvestre foi servido com um copo de Gueuze. O comentário dele com uma única palavra: interessante, enquanto seu rosto não escondia o desgosto, foi bem característico da reação das pessoas quando apresentadas às sours.
É bom ressaltar que, de fato, a alta acidez na cerveja pode ser sim um defeito, que denota, por exemplo, contaminação ou falta de assepsia em alguma etapa da produção. Mas não me refiro a essas, estou falando das cervejas propositalmente azedas, elas é que estão em alta e, são mesmo uma tendência de consumo no Brasil.
Fontes diferentes para diferentes azedumes
A acidez proposital na cerveja pode vir de diferentes fontes, que, acredite, causam sabores azedos diferentes entre si. Umas podem ter notas vínicas, outras lembram alimentos lácticos e há ainda as que nos remetem a notas terrosas encontradas em cogumelos, por exemplo. São cervejas fermentadas com leveduras selvagens, cervejas fermentadas com lactobacilos e bactérias Pediococcus, cervejas fermentadas com esses elementos associados. Há estilos históricos e os estilos chamados de ” sours modernas”, que acabaram se transformando em um movimento de reinvenção desse tipo de cerveja, capitaneado pelas cervejarias craft norte-americanas. E o Brasil entrou firme no tal movimento. Há muitas cervejarias artesanais brasileiras produzindo sours hoje.
Berliner Weisse, um caso à parte
Um estilo, em especial, de cervejas ácidas parece ter caído nas graças das cervejarias brasileiras nos últimos tempos. É um dos estilos históricos que vem sendo revisitado pelas bandas de cá. Berliner Weisse, a cerveja característica de Berlim, que se desenvolveu ao longo de três séculos, do XVII ao XX. Há várias teorias para a criação dela, chamada por lá de Champagne do Norte. Uma dá conta que seria uma criação de imigrantes franceses que, rumo a Berlim , ao passarem pela região belga de Flandres, aprenderam as técnicas de fabricação das ácidas Red e Bruin. Há também teorias de que ela seria uma cópia de uma específica cerveja popular na Berlim do século XVII ou cópia das cervejas de Hamburgo no mesmo período. Nenhuma das teses, penso eu, elimina a outra, não é mesmo? Ela pode ser a somatória de todas as explicações. O que nos interessa, no entanto, é saber que tal tipo de cerveja não nasceu ácida. Isso aconteceu de fato por acidente, através de fontes de contaminação. E que seu propósito era o de ser uma cerveja leve, de baixo teor alcóolico ( na casa dos 3%), fácil de beber, sem o peso das comuns Brown Ales de então. Metade cevada, metade trigo, as Berliner Weisse tal qual conhecemos hoje só foi desenvolvida dois séculos depois, quando a contaminação indesejada do início passou a ser controlada.
É comum vê-las em Berlim servidas com xaropes, que lhes dão sabor adocicado e colorações berrantes. Eu detesto essa forma de tomá-las. Me lembra remédio que precisa mudar o sabor para se tornar palatável. Prefiro ao natural, sem a saborização.
Hoje várias cervejarias brasileiras que contam em seu portfólio com o estilo, sejam as cervejas como existem na cidade que lhe dá o nome, sejam produzidas com certa ” liberdade poética” das adaptações verde-amarelas, como, por exemplo, o acréscimo de frutas. Mas, (ainda bem) parece que os xaropes não pegaram por aqui!
O que posso dizer é que elas constituem um caso de amor ou ódio. Não há meio termo em relação a gostar das Berliner Weisse. Ou nos agradamos dela ( meu caso) ou detestamos. Em Blumenau ( SC), elas inspiraram as microcervejarias locais a definirem um estilo próprio da cidade – o Catarina Sour, uma vez que pelo menos quatro cervejarias de lá produzem cervejas Berliner Weisse. Um festival das azedas deve marcar o mês de novembro na cidade catarinense, tamanho o fascínio que elas vêm causando.
Pensei em destacar as cervejas sour brasileiras que mais me agradam, mas, de verdade, tive medo de ser injusta e esquecer de alguma. Por isso minha recomendação é: prove todas as que tiver oportunidade de experimentar. E aí trace suas escolhas, seguindo o único critério de fazer feliz o seu paladar. Acredite: a vida pode ser agradavelmente azeda, sem nunca perder a doçura!
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Puro modismo! Cerveja é cerveja(Água, Malte e lúpulo). O Resto é babaquice e invencionice, mas como tem os que gostam dos olhos da cara... tem os que gostam da remela!
Bem... invencionice do século XVII. Até que perdurou muito, não é verdade? O que importa é cada um tomar a cerveja que gosta, seja como for. Pão e Cerveja para todos nós!
Poderia citar alguns exemplares nacionais e/ou internacionais que podemos encontrar por aqui deste estilo grato!
Há muitos exemplares de Sours à venda no Brasil. Tem as belgas Mariage Perfait; Rodenbach; Kriek Lambic; tem a linha de sours da Way de Curitiba; também a linha de sours da Tupiniquim, de Porto Alegre; tem as sours da Cervejaria Blumenau. São apenas algumas das muitas opções disponíveis.
Obrigado, vamos experimentar este estilo agora.
Puro modismo! Cerveja é cerveja(Água, Malte e lúpulo). O Resto é babaquice e invencionice, mas como tem os que gostam dos olhos da cara... tem os que gostam da remela!
Bem... invencionice do século XVII. Até que perdurou muito, não é verdade? O que importa é cada um tomar a cerveja que gosta, seja como for. Pão e Cerveja para todos nós!
Olá Fabiana, estes dias tive minha primeira vez com uma "sours" e posso dizer foi impactante. Tive enorme dificuldade e talvez para apreciar terei que repetir o processo diversas vezes.
Sim Felipe, é mesmo difícil gostar delas. Mas, uma vez conhecendo e reconhecendo-as mais de uma vez, de repente nos descobrimos gostando. Tente algumas vezes e perceba as modificações na aceitação de seu paladar.
Poderia citar alguns exemplares nacionais e/ou internacionais que podemos encontrar por aqui deste estilo grato!
Há muitos exemplares de Sours à venda no Brasil. Tem as belgas Mariage Perfait; Rodenbach; Kriek Lambic; tem a linha de sours da Way de Curitiba; também a linha de sours da Tupiniquim, de Porto Alegre; tem as sours da Cervejaria Blumenau. São apenas algumas das muitas opções disponíveis.
Obrigado, vamos experimentar este estilo agora.
Olá Fabiana, estes dias tive minha primeira vez com uma "sours" e posso dizer foi impactante. Tive enorme dificuldade e talvez para apreciar terei que repetir o processo diversas vezes.
Sim Felipe, é mesmo difícil gostar delas. Mas, uma vez conhecendo e reconhecendo-as mais de uma vez, de repente nos descobrimos gostando. Tente algumas vezes e perceba as modificações na aceitação de seu paladar.