Mas a pergunta que faço e coloco aqui em discussão é: a qualidade das cervejas ciganas tem sido boa?
Não quero criar circo, muito menos colocar em dúvida o trabalho de ninguém, mas gostaria realmente de saber a opinião do mercado, do público, diante de tantos rótulos independentes surgidos nos últimos tempos. Há 10 anos, tenho acompanhado muito de perto o movimento dos cervejeiros que estudam, estudam, estudam e só então partem para um sonho maior, que é o de produzir sua cerveja comercialmente. Ao chegar nesse ponto, eles já entenderam bem o processo de produção, já sabem reconhecer inúmeros defeitos que possam surgir, sabem corrigir os erros que levaram a tais defeitos e têm um nível de exigência alto em relação à qualidade do que oferecem ao público. Ao mesmo tempo, tenho acompanhado outro movimento, o de pessoas que acabaram de fazer um cursinho de cerveja caseira e, mesmo sem produzir nem a segunda leva após tal curso, partem para alugar fábricas em busca do sucesso de vendas com sua ” super cerveja”. O mercado de cervejas artesanais, ouve-se dizer, está bombando! A hora de ganhar dinheiro com isso é agora!
Outro dia, li no Facebook um desabafo da colega, Beer Sommelier Bia Amorim, sobre uma cerveja que ela tomou numa feirinha de rua de SP. Era péssima, segundo o relato. Cheia de defeitos, quase intragável. E a pergunta dela era: que tipo de recado é dado ao público leigo, que prove uma cerveja assim pela primeira vez? Será que essa pessoa voltaria a tomar qualquer rótulo artesanal depois de experimentar algo tão ruim?
A apreensão da Bia é a mesma que tenho. Há cervejas excelentes, que merecem ser degustadas. E há muitas outras que não poderiam estar no mercado. A profusão de rótulos independentes acrescenta exatamente o que? A grande quantidade em oferta é determinante ? Estamos diante de uma ” bolha”? Porque se for este o caso, bolhas estouram. E ao estourar, vai restar o que?
Talvez o Brasil esteja vivenciando o que os Estados Unidos viveram na década de 1980, quando um boom de cervejarias artesanais levou à abertura de dezenas de empresas inconsistentes, que não sobreviveram. Na peneira natural do mercado, só permaneceram aquelas que tinham, de fato, bons produtos para apresentar e, principalmente, para competir com as grandes e entre elas mesmas.
Será que já chegamos nesse ponto, o de separar o joio do trigo?
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Acredito que variedade só é sinônimo de variado, de opção. Qualidade é outra coisa. Acho que sou o único maluco que tem dois modelos de negócio: tenho fábrica e sou, também, cigano. Afinal, tem doido para tudo neste mundão velho. Disse o filósofo, economista Castoriadis: "O homem é esse animal louco cuja loucura inventou a razão".
Longe de mim demonizar as ciganas, hein?? Sabemos que não é isso que determina nada. Apenas a modalidade deu oportunidade a quem quiser pagar para produzir. E muita gente só quer pagar, sem se preocupar com o que vai oferecer...
Acredito que variedade só é sinônimo de variado, de opção. Qualidade é outra coisa. Acho que sou o único maluco que tem dois modelos de negócio: tenho fábrica e sou, também, cigano. Afinal, tem doido para tudo neste mundão velho. Disse o filósofo, economista Castoriadis: "O homem é esse animal louco cuja loucura inventou a razão".
Longe de mim demonizar as ciganas, hein?? Sabemos que não é isso que determina nada. Apenas a modalidade deu oportunidade a quem quiser pagar para produzir. E muita gente só quer pagar, sem se preocupar com o que vai oferecer...
Acho que ainda vai levar um tempo para realmente separarmos o joio do trigo, mas entendo que o mercado tende a se autogerir: quem for sério e tiver bons produtos, sobreviverá; quem não, será tacitamente expulso. Mas é só minha humilde opinião.
Acho que ainda vai levar um tempo para realmente separarmos o joio do trigo, mas entendo que o mercado tende a se autogerir: quem for sério e tiver bons produtos, sobreviverá; quem não, será tacitamente expulso. Mas é só minha humilde opinião.