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Cerveja Artesanal e o efeito Paleta Mexicana

Primeiro veio uma loja – picolés gordos, recheados de calda ou creme. Nem sei se de fato a ideia foi inspirada no México, mas que virou febre rapidinho, isso virou. Depois se viu uma invasão. Em cada esquina, em cada shopping, lá estava um quiosque ou loja das indefectíveis paletas mexicanas. Como se picolé tivesse sido inventado a partir delas! E de repente, sumiram todos do mercado. Talvez porque ninguém mais suportasse o produto sempre igual, no mesmo conceito, sem nenhum acréscimo de inovação. No Brasil temos essa mania de copiar iniciativas que dão certo, sem acrescentar nada de novo, sem avançar na ideia, sem evoluir o conceito. Copiamos o que dá certo acreditando que vamos vender mais, lucrar mais do que o criador, simplesmente porque somos espertos. É  aí  que mora o perigo: em qualquer segmento, é preciso consistência no que se oferece, do contrário apenas se divide a mesma fatia de bolo, sem que ninguém saia saciado. E o fim melancólico é quase sempre o mesmo: quebradeira! Sendo bastante realista, não pessimista como podem acusar alguns, estamos vivenciando o efeito paleta mexicana na cerveja artesanal. O número de players no mercado cresce, mas o marketshare não!

Dados do Ministério da Agricultura e Pecuária ( corri atrás disso, não é chute) mostram que somente em 2017 foram registradas 91 novas cervejarias no Brasil. Ao todo são 610 cervejarias em funcionamento. O crescimento do número de registros é de seis vezes de 2007 para cá. Entre grandes e microcervejarias, são 7540 produtos registrados competindo no mercado. Mas, como li em um post da Janaína Albino ( Cervejaria Bamberg) no Facebook outro dia, aumenta o número de cervejarias, mas a participação de mercado continua parada em 0,6% … isso é crescimento sustentável?? Dividir a mesma fatia de bolo para cada vez mais bocas é o que entendemos como avanço?

Por enquanto só falei das cervejarias! Não podemos esquecer das cópias de iniciativas que dão certo, sem que se acrescente nada, sem que se avance e se faça mais e melhor. O negócio é entrar no mercado fazendo o mesmo que está dando certo. Criar pra que? Copiar dá menos trabalho, não é?  Um evento legal, criativo, é clonado e levado à saturação. Acho que nem mesmo o público mais curioso em relação à cerveja artesanal vai ter interesse em ir a eventos iguais, exatamente com as mesmas cervejas, com as mesmas bandas, com os mesmos food trucks,  com preços altos que limitam ainda mais esse público. Acham que quero menos eventos? Pelo contrário, quero cada vez mais! Desde que sejam originais, que mostrem outras facetas e possibilidades da cerveja. Para beber sempre o mesmo e ouvir sempre a mesma música, prefiro fazer eventos caseiros!

Um bar cria um conceito diferente e , obviamente vai atrair clientes. Aí vem o vizinho, mesmo sem ser do ramo, e abre um estabelecimento igual! Às vezes copiando até o nome! Quem aguenta ir sempre aos mesmos locais? Ou a locais idênticos, que não oferecem novas experiências?

O mesmo acontece na minha área. Sou jornalista, trabalho em Rádio há mais de 20 anos. Foi para esse veículo, no qual eu já trabalhava, que criei em 2009 uma coluna sobre cerveja. Não copiei de ninguém, simplesmente porque não havia nada parecido com isso. A cada dia  vejo surgirem clones, até mesmo na emissora na qual fundei a coluna Pão e Cerveja, sem que se avance em nada na minha ideia. Não acho sadio reserva de mercado. Nem gostaria de ter exclusividade em programas e colunas de rádio falando de cerveja, afinal é a divulgação dessa cultura o meu maior objetivo. Mas copiar formato, estilo, pautas e entrevistas? É, de novo, o efeito paleta mexicana se manifestando.

Ano passado, escrevi neste blog que esperava que a cerveja artesanal não fosse moda. Continuo esperando, mas constato que é o que acontece!  Acho que não há nada a fazer. É simplesmente esperar para ver quem fica e quem não tem consistência para ficar.

Vontade de tomar uma paleta mexicana, eu não tenho, será que ainda há alguém que tenha? Espero que nunca precise perguntar o mesmo sobre cerveja artesanal!

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Fabiana Arreguy

Ver Comentários

  • Eu mesmo adorava beber cervejas artesanais mas o povo cresceu o olho e agora estão muito caras em uma época que o país esta sem grana. Vejo que essa bolha vai estourar e não vai demorar muito. Tenho um bar em São João de Meriti no Rio e fui o propulsor das cervejas especiais aqui, porém hoje quase não trabalho mais com elas devido a forma surrealista o qual os preços subiram. O estouro vai acontecer e vai ser triste. A AmBev agradece.

  • Perfeita análise...
    E anote aí! Quando esse monte de cervejaria genérica começar a definhar, culparão única e exclusivamente a AMBEV, dizendo que ela é quem engole as pequenas.

  • Excelente comentário, pertinente e realista. Infelizmente é o que vemos nos novos empreendedores, seja de Cerveja Artesanal (eventos como você disse, sempre muito caros e elitizados). Temos também a mania de Food trucks e Cupcakes, bares e restaurantes gourmets e as academias de Crossfit. Parece que os "novos empreendedores" ficam vendo os canais TLC e Food Network e Discovery H&H, para copiar as tendências que vem dos EUA e Europa. Criatividade zero e copia ao máximo de conceitos importados. Tudo modinha, para cobrar preços exorbitantes. Infelizmente!

  • Esse movimento é natural. Aparece o criador, o original, logo em seguida vêm as cópias e depois o modismo. Isso chama-se concorrência e oportunidade para os oportunistas, mas no fim do dia, ficam os melhores. O interessante disso tudo é que, o próprio criador sente a necessidade de reinventar-se.

  • Hei Fabiana , concordo e tenho me decepcionado bastante ao destampar algumas " caras " CERVEJETAS MEXICANAS . Mais uma excelente matéria .

  • Discordo do seu ponto de vista. O fato de o mercado ter novos produtos a cada dia sem que isso se reflita em um crescimento do market share não é indicativo de modismo. Há 6 anos estamos vivendo uma crise econômica forte, com redução agressiva dos investimentos e da renda disponível para consumo de um bem caro e (admitamos) supérfluo. E ainda assim, o mercado se manteve. E o mercado continua inovando. Venha fazer uma visita a São Paulo e ver os novos brew pubs e tap rooms que surgem a cada dia oferecendo cervejas frescas e de altíssima qualidade. E uma boa fonte para se verificar o interesse genuíno por cerveja artesanal é usar o google trends. Vale a pena conhecer essa ferramenta, que mostra a evolução do interesse (busca) por cada tópico. Digite o termo paleta mexicana e veja como, em um curto período de tempo, o interesse subiu e caiu vertiginosamente, para praticamente desaparecer. Depois digite cerveja artesanal e veja como o crescimento é estável e ocorre por um longo período, apesar de ser baixo (na minha opinião, só não foi mais rápido pela crise que mencionei). Continuo acreditando nesse mercado, espero que você também!

    • Concordo com você, acho que o mercado de cerveja vai mais além. Questão de sociabilidade, de costume, as pessoas vão sempre beber alguma cerveja. O que concordo é que novas possibilidades devem existir, o cara que abre e faz um estilo cru é puro, esse não vai sobreviver, como qualquer outra coisa. Assim é o mercado.
      Concordo com a Fabiana quanto ao alto custo de um evento de cerveja artesanal, tem de ser bom para ambos. Cervejarias devem esprener sua margem de lucro encarando como um investimento de MKT. Também tenho preferido eventos caseiros.

  • Eu mesmo adorava beber cervejas artesanais mas o povo cresceu o olho e agora estão muito caras em uma época que o país esta sem grana. Vejo que essa bolha vai estourar e não vai demorar muito. Tenho um bar em São João de Meriti no Rio e fui o propulsor das cervejas especiais aqui, porém hoje quase não trabalho mais com elas devido a forma surrealista o qual os preços subiram. O estouro vai acontecer e vai ser triste. A AmBev agradece.

  • Perfeita análise...
    E anote aí! Quando esse monte de cervejaria genérica começar a definhar, culparão única e exclusivamente a AMBEV, dizendo que ela é quem engole as pequenas.

  • Bastante interessante o texto!
    Espero sinceramente que não seja só moda e que cresça cada vez mais e principalmente fique mais acessível, pois me tornei um grande apaixonado pelas cervejas artesanais.
    Conhecimento de mercado não tenho praticamente nada, mas da minha visão de consumidor, o que eu já notei há algum tempo é que tudo se concentra demais nas capitais e grandes cidades, e basta se afastar um pouco pra não encontrar mais nenhuma cerveja melhorzinha pra degustar... moro em BH e aqui está lotado de opções, além de eventos cada vez mais repetitivos (como citado no texto), mas quando vou pra qualquer cidade menor, tipo Pará de Minas que é minha cidade natal, tenho que me contentar com as mesmas cervejas de milho horríveis de décadas atrás!
    Talvez esse poderia ser um caminho pra se buscar um crescimento mais sustentável, criar novas opções em cidades onde a cerveja boa de verdade ainda não foi descoberta!

    • O que você relata é comprovado na concentração do número de cervejarias nos estados do Sul/sudeste do país. O dado também faz parte da estatística do MAPA na qual me baseei para o texto. No Nordeste, por exemplo, há 6% de cervejarias apenas, entre as 650em funcionamento no país. Interiorizar é um caminho desbravador, não é? Dá mais trabalho do que tentar abocanhar um pedacinho do mercado já aberto.

      • Sim, esse é o caminho. A união das micro cervejarias em prol de uma distribuição nacional. E regionalização das nano cervejarias caminhando pros novos mercados do interior e regiões ainda pouco exploradas do país

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